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Uma vez mais, sem surpresas, somos confrontados com múltiplos focos de incêndio, com impacto maioritário no Norte de Portugal, mas a espalhar-se pelo Interior Centro do país. E regressa o massacre televisivo, em que todos os canais nos mostram os incêndios dia e noite, não resistindo muitos deles à entrevista do sofrimento humano em direto. Podemos mesmo questionar que tudo isto seja informação pública relevante, até por comparação com outros países onde a intensidade dos incêndios é igual ou superior. Porque em Espanha, já com mortes registadas, França, Itália, Grécia e Turquia, por exemplo, as áreas de floresta ardida, incluindo habitações, são brutais e têm implicado situações críticas, com o envolvimento de meios de combate gigantescos, mas sempre insuficientes.
Um inverno e uma primavera com chuva abundante e tardia, com meses secos de seguida, criam condições muito favoráveis à ocorrência de incêndios, com a vegetação acumulada a funcionar como combustível perfeito para ocorrências em série e rapidamente descontroladas. As plantas entram em situações de fortíssimo stress hídrico, como que se transformando em "folhas de papel" fino e seco facilmente inflamável. Perante tudo isto, o aumento dos cuidados com a limpeza do coberto vegetal, sobretudo o que se encontra na proximidade de habitações, torna-se uma tarefa coletiva obrigatória, matéria em que parece óbvio termos ainda um longo caminho a percorrer.
Outra questão tem a ver com a recuperação de áreas ardidas e o planeamento florestal. Este é um domínio no qual o país tem evoluído muito e em que o conhecimento, nomeadamente o que resulta de parcerias entre as empresas e o sistema científico, mais se tem consolidado. Sendo certo que dificilmente evitaremos no futuro a repetição de situações como as que estamos a viver, também é um facto que podemos fazer bem mais e ser mais ambiciosos na organização da nossa floresta.