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Este século tem sido marcado pelo desafio climático e a construção de um novo modelo de desenvolvimento, descarbonizado e circular, assente na valorização do capital natural. O Acordo de Paris estabeleceu as metas a nível global para 2050; a União Europeia assumiu a valorização do capital natural e o combate climático como prioridades, lançando o Green Deal e o direito ao clima. Todos passamos a ter o direito a um equilíbrio climático. Todos passamos a ter a obrigação de o proteger.
Ambicionar o desígnio de neutralidade carbónica exige mudanças nas diferentes atividades económicas, nomeadamente nas práticas de agricultura e na redução da incidência de incêndios rurais. Inovar na gestão do uso do solo e da vegetação para absorver mais carbono, ou mesmo apostar em novas tecnologias de sequestro de carbono, exige mais conhecimento e investigação no setor agrário.
O conhecimento é, cada vez mais, essencial para a transformação dos sistemas agroalimentares, tornando-os mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis, adaptados às alterações verde e climática e garantindo, simultaneamente, a segurança alimentar e regimes alimentares saudáveis.
A agricultura deve ser perspetivada enquanto atividade tecnológica e de conhecimento, cuja sustentabilidade depende da capacidade de harmonizar as questões produtivas, tecnológicas e ambientais, sem descurar a sua estrutura económica e social.
A crise epidémica, a escalada inflacionista dos produtos alimentares e as previsões de aumento da população mundial reclamam uma dimensão estratégica para a agricultura portuguesa, comprovando que o país deve melhorar a balança agroalimentar e a capacidade de autoabastecimento.
Consequentemente, a agricultura não pode continuar a ser encarada por alguns decisores políticos como uma atividade económica pouco relevante e sem futuro.