A vidência que nos chegou de Espanha é que a Direita fragmentada vale menos. Quem sonhou com a hipótese de obter uma maioria parlamentar por via da oferta - mais partidos aumentariam a hipótese de chegar a mais eleitores - esqueceu que a Direita do Ciudadanos e a Direita do VOX sempre existiram no PP.
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A Direita só voltará a crescer quando os eleitores se cansarem da governação de Esquerda. É cíclico e o contrário também é verdade. Sendo assim, poder-se-ia pensar que pouco importa o modo como a Direita tradicional lida com as ideias dos radicais de Direita. Só que não é verdade. Aliar-se a gente xenófoba e racista, como fizeram PP e Ciudadanos para poderem governar a Andaluzia, teve o resultado que teve poucos meses depois em toda a Espanha. À Direita, é o VOX que aparece como vencedor.
Por cá, namorar estas ideias, como já está a fazer Nuno Melo e sempre fizeram muitos dos que se juntaram no Mov 5.7, dá mais tempo de vida à Esquerda tradicional no poder. A "geringonça" que António Costa inventou, como forma de sair a ganhar de umas eleições que perdeu, ou a que Sánchez não faz, pelo menos para já, porque quer que o PSOE seja visto como o único vencedor, dão a mão à Esquerda radical para que esta faça o caminho em direção ao Centro. A Direita tradicional faz ao contrário, deixa-se seduzir e corre atrás de ideias que sempre recusou, como já se viu em vários países da Europa noutras eleições, como se viu agora com o PP em Espanha, com os resultados que se conhecem.
Acontece que a influência que os radicais de Esquerda têm na organização da sociedade se tem revelado em questões de género, de sexualidade, consumo de drogas leves, mas não têm conseguindo impor as suas ideias nas questões económicas. Enquanto os radicais de Direita têm uma agenda xenófoba e racista, com um grau de conflitualidade muito superior.
Agora que se aproximam as eleições europeias e, com férias pelo meio, as legislativas, é sempre bom não esquecer que, entre o muito que separa os radicais de Direita e de Esquerda, há uma Europa inteira a fazer com que convirjam na atribuição da culpa pela vida ser como é. E esse assunto, a Esquerda resolveu com pragmatismo. Mais difícil de lidar para uma Direita democrática e tradicional que, lá como cá, soube integrar os apoiantes do anterior regime, é que os hospedeiros ganharam vida própria e retiraram da gaveta ideias que nunca chegaram a morrer. Querem mesmo seguir por esse caminho?
*Jornalista