Lá por casa habitam dois jovens. O mais velho já tomou a primeira dose da vacina. A mais nova consulta regularmente o site dos agendamentos. Nenhum deles precisa que as discotecas ou os bares reabram para serem incentivados à vacinação.
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Os dois fazem parte da maioria que na hora H não recusa a vacina e dos 85,7%, entre os 16 e os 25 anos, que pretendem ser imunizados, segundo um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública. Diria o leitor mais pessimista que tenho sorte. Não habito entre negacionistas, nem entre terraplanistas, nem entre aqueles que se divertiram nas redes a atacar a gripezinha de Donald Trump e de Jair Bolsonaro e que agora estão cheios de dúvidas.
Não habito eu nem a maioria dos portugueses. Mas a pergunta continua a persistir. Serão necessários incentivos para levar os jovens a vacinarem-se? O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares acha que sim. É acompanhado por alguns especialistas e decisores políticos. Estes defendem uma comunicação mais eficaz dirigida àquela faixa etária. Já Duarte Cordeiro admite a reabertura das discotecas e bares como forma de estímulo. Os jovens deste país não se resumem aos que se juntam em jardins ou em festas ilegais. Temos uma geração informada, muito mais letrada que qualquer outra e não precisa de ser incentivada a fazer algo que não só lhes pode salvar a vida como a de todos os que com eles privam.
A ideia de abrir discotecas para vacinar os jovens fez-me lembrar uma frase de Vittorino Andreoli, um psiquiatra italiano que tem vários livros publicados sobre o seu trabalho com os mais novos. "Uma sociedade de idiotas considera os adolescentes inúteis". As discotecas e os bares devem abrir? Provavelmente, sim, nos concelhos de menor risco. Já usar os jovens como pretexto é ofensivo para eles e para os próprios empresários do ramo. Como nota final, ofensivo também para aqueles que, embora mais crescidos, gostam de viver. E já têm certificado digital.
Diretor-adjunto