Em 1997, o economista Paul Krugman, escrevia, na revista Fortune, que as economias asiáticas iriam desaparecer do mapa, se não controlassem as suas moedas. Não o fizeram, mas saíram da crise. Krugman é conhecido por outras profecias catastrofistas não realizadas, mas foi sempre honesto quanto a estes falhanços de prospectiva. Costuma referir que o seu papel é, muitas vezes, o de alertar para hipóteses extremas. Se o cataclismo não se der, tanto melhor.
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Krugman andou recentemente nas bocas do mundo financeiro português, porque reproduziu o blogue Calculated Risk, do MBA californiano Bill McBride, pondo em causa o "sucesso relativo" do último leilão da dívida portuguesa, a juros altíssimos, mas abaixo do "fetiche" oficial dos 7 %.
Paul Krugman, claro, não cria nem nunca criou empregos, como salientou o mordaz Steve Colbert, numa impagável entrevista. É, nas palavras de Colbert, um "teólogo" da economia. Quem sabe as soluções práticas para sair da crise são os empregadores, as empresas, os "mercados". Mas Krugman explicou, com bonomia, que foram essas entidades "práticas" que provocaram a crise. Não os "teólogos". É uma boa objecção, mas deve explicar-se que a teologia económica tem uma parte da culpa: ao ser incapaz de detectar a toxicidade do mundo financeiro, e ao não analisar, no caso da dívida soberana, o que era virtuoso e o que fora pecaminoso.
São interessantes as reacções ao curto escrito de Paul Krugman. Um bloguista indiano diz que Portugal pagou juros muito baixos, acrescentando que o seu país, com mais capacidade e potência, aceita um ónus de 10 %. Outras vozes explicam que a dívida contraída não foi toda má: pode ter originado excessos, mas também produziu escolas e hospitais, pontes e comboios. Numa palavra, desenvolvimento.
E a objecção de Krugman não é tanto sobre a resolução da dívida, mas sobre a gestão de expectativas, a verdade do discurso, e a carga de novos empréstimos (é isso que significa "vender a dívida") sobre gerações futuras, num país que pode continuadamente cair.
Mas, mais uma vez, estamos perante uma análise pessimista do pior mundo possível.
Cabe agora aos governos, com realismo, tacto e ponderação, retirarem a razão às Cassandras do tipo Krugman. Mas sem as acusarem dos males que eles próprios produziram, com ou sem boas intenções.
Destas estão os mercados cheios.
