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Nome de referência do atletismo português, Manuela Machado não ficou apenas popularizada pelos triunfos nacionais e internacionais. Poço de simpatia e humor, a minhota ficou também conhecida por ser das poucas personagens a quem Herman José teve dificuldade em usar no alimento do seu superego.
Há uns anos, garantia então Herman José sucessos de audiência televisiva, foi Manuela Machado convidada para um dos seus programas. Conversa daqui, conversa dali, a páginas tantas veio à baila uma maratona ganha pela moça de Cardielos e as dificuldades por que passara Manuela Machado confessou ter quebrado em certa fase do percurso por culpa da chamada dor de burro. O entrevistador, claro, espevitou os sentidos, entre o riso e a curiosidade, e obteve uma explicação... arrasadora, mais ou menos assim: "O que fiz? Muito simples: fui ao bolso dos calções, puxei de uma folhinha de alface, dei-a a comer ao burro e o problema resolveu-se!". A galhofa foi mais do que muita e a resposta de Manuela Machado, tão simplória quanto bem-humorada, resultou em mais um pico alto de popularidade.
Mais de uma dezena de anos depois, por que carga de água é para aqui chamado este episódio?
Simples: Vítor Gaspar, o emérito ministro das Finanças, resolveu comparar o processo de reajustamento em curso de Portugal a uma maratona. Tratando-se de uma prova de 42 195 metros, segundo Gaspar o país está agora no quilómetro 27 (ai sim?) e as dificuldades são mais do que muitas, ampliando-se os riscos de não se atingir a meta. O ministro não o disse mas, tal como estão as contas do país e os comportamentos recessivos agudizados, fica subentendida a hipótese de todos sermos afetados por uma dor de burro - e das fortes! E das duas uma: ou se torna inexorável a desistência, algo de bem triste e significativo de um esforço inglório ou, então, há um qualquer golpe de asa capaz de puxar de uma folhinha de alface atenuadora do dorido processo em curso.
Assim como assim, estando o país entregue a um novo entretenimento - o dos eufemismos - a dor de burro está já patente e convirá não a negligenciar um só instante. Não o fazer será asnático!
Se alguns dos empecilhos detetados no Orçamento para 2013 podem ser analisados à luz de jogos de cariz político partidário, já é mais difícil não levar em conta a falta de crença de múltiplos setores independentes da sociedade. E quando se junta um projeto de parecer do Conselho Económico e Social a considerar que as metas traçadas na proposta de Orçamento para 2013 são "demasiado ambiciosas", conduzindo Portugal ao risco de "incumprimento" e de aproximação à tragédia grega, o caso agudiza-se.
Não há no centro do Poder uma folhinha de alface capaz de evitar o colapso em perspetiva pela chamada dor de burro?