<p>Nas economias de mercado as crises são sistémicas, ou seja, decorrem do funcionamento do próprio sistema económico. O regular funcionamento da economia conduz a disfunções que surgem no fim de certos ciclos económicos. Essas crises são, pois, cíclicas e de gravidade variável, mas que, em alguns casos, podem levar ao próprio colapso da economia. </p>
Corpo do artigo
Os sistemas económicos diferenciam-se pela forma como organizam a produção de bens necessários à satisfação das necessidades sociais. O capitalismo caracterizar-se-ia pela propriedade privada dos meios produtivos e, em consequência, a produção de bens estaria mais orientada para o lucro dos donos desses meios do que para a satisfação das necessidades sociais. A sua principal fraqueza estaria, justamente, na insuperável contradição entre o carácter social da produção e a propriedade privada dos meios produtivos.
No sistema económico socialista essa contradição seria superada através da apropriação colectiva dos meios de produção levada a cabo pelo estado. A produção passaria então a estar orientada, não para o lucro, mas para a satisfação das necessidades sociais e, por isso, todo o processo produtivo teria de ser rigorosamente planificado em função desse objectivo. Deixaria então de haver crises porque a produção estaria imperativamente subordinada a planos económicos previamente elaborados de acordo com as presuntivas necessidades sociais. Produzir-se-ia tudo (e apenas) o que estivesse previsto no respectivo plano. A realidade, porém, mostrou que o sistema socialista conduziu a um atraso económico generalizado, tendo originado crises terríveis de subprodução, ou seja, de escassez de bens que, em alguns casos, conduziu à fome e à morte de milhões de pessoas.
No feudalismo também não haveria crises sistémicas pois assentava em economias de subsistência onde se produzia tudo o que se consumia e consumia-se tudo o que se produzia. As crises, quando surgiam, eram imprevisíveis e de subprodução. A escassez de bens resultava de factores exógenos e aleatórios, como as catástrofes naturais. Algumas vezes, porém, essas crises eram consequência de guerras e outras eram causa delas.
Já as crises nas economias capitalistas são, como se viu, periódicas e previsíveis, pois surgem, inevitavelmente, ao fim de determinados ciclos produtivos. São crises que resultam, principalmente, da sobreprodução, ou seja, do excesso de bens no mercado.
Uma das mais marcantes características dessas economias é a generalização da mercadoria. Tudo se compra e tudo se vende no mercado, inclusive o próprio dinheiro, cujo preço é o juro. Qualquer bem é transformado em mercadoria desde que haja mercado para ele, ou seja, desde que haja alguém interessado em mercá-lo. Sendo um sistema aberto, a produção não é directamente orientada para satisfazer necessidades (como acontecia nos sistemas fechados), mas sim para um mercado onde todos os consumidores se abastecerão e onde todos os produtores concorrerão abertamente entre si, procurando cada um produzir e vender mais do que os outros. A livre concorrência entre produtores é a principal característica do mercado e do próprio sistema económico. Obviamente, com tais regras apenas poderão sobreviver os mais fortes, ou seja, os que produzirem mais e venderem a preços mais baixos.
Ora, um sistema produtivo assim organizado acaba, mais cedo ou mais tarde, por «encharcar» o mercado de produtos. Todas as empresas tentarão produzir mais e melhor, pois senão serão esmagadas pela concorrência. Porém, a partir de certa altura o mercado deixa de poder «escoar» tantas mercadorias. A oferta (de bens) supera a procura (o consumo), pelo que o mercado acaba por ficar saturado e as empresas entram então em crise - primeiro reduzindo a produção e os postos de trabalho e depois acabando mesmo por fechar e lançar os seus trabalhadores no desemprego.
Isso passa-se com a produção de automóveis, de têxteis ou de sapatos, mas também com a dos bens agro-pecuários (frutas, cereais, carne, leite, etc.), cujos excedentes fazem baixar os seus preços no mercado, levando à falência dos produtores mais frágeis. Apesar da abundância de alimentos, muitas pessoas no mundo (mercado global) morrem de fome por não terem o que comer e muitos dos próprios produtores desses alimentos acabam por cair na pobreza, devido àquela abundância.
Para obstar aos efeitos mais nefastos das crises sistémicas do capitalismo o Estado deixou de ser uma espécie de «guarda nocturno» do sistema e passou a intervir directamente na economia. Assim nasceu o «Estado providência».