A polémica que nos é servida, diariamente e em doses cavalares, sobre o estado da Educação está próxima de atingir um ponto de irracionalidade. Se é que não atingiu já.
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É pena que os actores do sector porventura mais decisivo para o futuro do país não sejam capazes de manter elevado o tom de uma discussão que devia ser séria e decisiva. Sim, decisiva, porque não é possível continuar, como antigamente, a aceitar que a avaliação dos professores seja uma fantochada: o mérito deve ser premiado, por uma elementar questão de justiça.
Ocorre que o essencial do debate já há muito está ultrapassado pela vozearia e pela troca inconsequente de mimos. Exemplo último: ontem, o porta-voz oficial do PS, Vitalino Canas, acusou os responsáveis sindicais, chamando-lhes "radicais", de instrumentalizar os jovens que, um pouco por todo o país, se têm divertido a atirar ovos e tomates à ministra e aos seus secretários de Estado.
Vitalino Canas sabe que este tipo de acusação não acrescenta um átomo à discussão que realmente interessa. Mas, ainda assim, decidiu entrar num jogo perigoso que, no mínimo, o obriga a identificar os instrumentalizadores, sob pena de ficar ele com o ónus de apontar o dedo a incertos, o que não é bonito.
De resto, a única atitude correcta a ter perante a atitude dos alunos é menosprezo. Na verdade, nada de politicamente substantivo os empurra para as manifestações. Eles acham apenas piada à coisa - e mais piada ainda se puderem aparecer na televisão na qualidade de intrépidos autores de palermices, como atirar ovos ou tomates a responsáveis governamentais.
O presidente da República já percebeu que a confusão instalada aconselha prudência. Vai daí veio pedir calma e serenidade. O apelo dificilmente pegará. Porquê? Porque ou Maria de Lurdes Rodrigues recua nas suas intenções e perde toda a margem de manobra para efectuar novas reformas da Educação, ou a ministra e o Governo não recuam um milímetro - e aí terão que saber suportar os custos políticos das sucessivas investidas dos professores, dos alunos, dos sindicatos e da Oposição. Há uma terceira possibilidade: a ministra segue o exemplo de Correia de Campos, ex-ministro da Saúde, e sacrifica-se (a pedido de José Sócrates, claro) em nome da estabilidade que o sector da Educação necessita para seguir em frente.
Quem não está em condições de ceder um bocadinho que seja são os sindicatos - a corda está tão esticada que qualquer recuo os deixará com pouca capacidade para reclamarem dos professores novos esforços para novas lutas. Sendo que é disso que os sindicatos vivem, a equação não se afigura fácil.