A Encruzilhada Demográfica – (Re)Agir pelo Futuro
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Quando se pensa numa encruzilhada, visualiza-se um ponto onde se cruzam vários caminhos, onde surge a dúvida sobre o caminho a escolher.
E parece ser neste ponto que atualmente a União Europeia se encontra, entre os vários "caminhos" que caracterizam uma sociedade em declínio demográfico, como o envelhecimento da população, a diminuição da população em idade ativa, o reduzido número de nascimentos, a falta de mão-de-obra, a desigualdade territorial demográfica e as alterações da população ligadas aos movimentos migratórios.
Caminhos esses que prejudicam negativamente a competitividade europeia, desacelerando as transições digital e ambiental, afetando a coesão social, a economia e a posição global da Europa.
Na União Europeia o impacto das mudanças demográficas tem vindo a manifestar-se nos sistemas de segurança social e da saúde, nas infraestruturas e nos orçamentos públicos, tornando-se num obstáculo à sustentabilidade económica e à competitividade futura como fundamentado no recente relatório de Mario Draghi.
Os dados atuais ilustram um cenário preocupante: entre 2003 e 2023, a percentagem de pessoas com mais de 80 anos subiu de 3,7% para 6%, e as previsões indicam que, até 2050, cerca de 30% da população europeia terá mais de 65 anos. E neste contexto, Portugal está entre os cinco países com maior envelhecimento populacional, apostando em políticas de apoio às famílias, imigração regulada e inclusão social para enfrentar esta crise.
A falta de renovação geracional e a fuga de cérebros têm vindo intensificar os desafios, diminuindo a produtividade e limitando o crescimento económico. Itália é um dos países mais afetados por esta realidade. No entanto, a Europa não está sozinha neste processo, já que outros continentes enfrentam desafios idênticos embora num ritmo mais lento.
A resposta a esta crise demográfica requer políticas coordenadas e colaborativas, que promovam a inclusão, modernizem os sistemas sociais e atraiam talento para o mercado de trabalho. A aposta em imigração regulada e estratégias de incentivo à natalidade são essenciais. Políticas de integração e apoio aos jovens são cruciais para garantir coesão social e sustentabilidade.
Por isso e reconhecendo a emergência da questão, a Comissão Europeia lançou, em outubro de 2023, a "Caixa de ferramentas para a demografia" uma estratégia holística que reúne ferramentas políticas existentes para ajudar os Estados-membros a gerir os impactos sociais e económicos das mudanças demográficas, com foco em quatro áreas principais: apoio aos pais, capacitação das gerações mais jovens, promoção do bem-estar das gerações mais velhas e gestão eficaz da migração. A estratégia também considera os aspetos geográficos das tendências demográficas.
Em conclusão, as alterações demográficas exigem uma abordagem multidimensional e políticas coordenadas, transversais e de longo prazo para garantir um futuro sustentável, preservando o tecido social e garantindo um equilíbrio entre as diferentes gerações. Neste contexto, é preciso acreditar na capacidade e na liderança dos decisores europeus para transformar os desafios demográficos em oportunidades para um crescimento mais inclusivo e sustentável para a Europa, implicando um compromisso coletivo entre os seus Estados-membros.