A equação que 2026 tem de resolver
Ao aproximar-se o final do ano, há uma certeza que Portugal já não pode adiar: o debate económico está feito, falta resolver a equação. Falámos muito de crescimento, de salários, de impostos, de talento e de competitividade, concluindo, praticamente, o diagnóstico. Por isso, em 2026, o país tem de passar da análise à execução.
A equação é simples, mas exigente. Sem produtividade, não há salários sustentáveis e sem talento, não há produtividade. Ao mesmo tempo, sem empresas fortes, nada disto acontece, pelo que continuar a discutir cada uma destas variáveis de forma isolada é garantir que o problema se mantém.
Portugal cresceu, mas continua a crescer pouco e devagar; os salários sobem, mas ficam aquém do custo de vida e do esforço das pessoas. As empresas querem pagar melhor, mas enfrentam margens curtas, custos elevados e demasiados obstáculos à escala. E o talento, esse, continua a olhar para fora porque encontra lá o que aqui ainda tarda: ambição, previsibilidade e oportunidade.
A produtividade portuguesa não é baixa por falta de trabalho ou de talento. É baixa porque durante anos tolerámos modelos empresariais pouco sofisticados, excesso de burocracia, fraca aposta em formação contínua e um sistema de incentivos que recompensa a sobrevivência em vez do crescimento. Enquanto isso, outros países ligaram salários a valor criado, talento a inovação e empresas a mercados globais.
2026 tem de ser o ano em que esta lógica muda. Precisamos de políticas económicas que premeiem quem investe em tecnologia, em qualificação e em escala. Ao mesmo tempo que precisamos de um mercado de trabalho moderno, que valorize o mérito, promova flexibilidade com segurança e alinhe produtividade com progressão salarial. Do Estado, precisamos que simplifique, que confie e que seja parceiro das empresas, em vez de ser um travão silencioso ao crescimento.
Mas precisamos também de ambição empresarial. Não basta pedir condições melhores; é preciso assumir que competir num mundo global exige mais profissionalização, mais cooperação e mais visão. Empresas pequenas e isoladas não pagarão melhores salários nem reterão talento, mas empresas produtivas, inovadoras e com escala, sim.
O próximo ano não pode ser mais um exercício de gestão do possível, tem de ser o ano em que Portugal resolve a sua equação estrutural. Porque o futuro não se constrói com discursos avulsos, constrói-se quando talento, produtividade e salários deixam de ser promessas e passam a ser estratégia.

