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Estranho Mundo este em que as perceções se afastam cada vez mais das realidades. Se uma mentira repetida muitas vezes tem a ambição de se transformar numa "verdade", alimentada por atores de uma tragédia coletiva que se começa a desenhar, o que podemos fazer?
Será suficiente mantermo-nos fiéis aos nossos princípios e aos nossos valores, repudiando a falsa superioridade moral dos que constroem as ilusões do caos, do colapso, da derrocada civilizacional?
Ou está na altura de voltarmos ao combate pela defesa dos direitos que conquistámos arduamente e que agora estão sob ataque cerrado das legiões de mentira, de fraude intelectual e do populismo mais descarado?
Este não é um jogo a que possamos assistir da bancada. As consequências de continuarmos a permitir o envenenamento dos nossos espaços comuns por narrativas falsas, por factos deturpados, pela manipulação da realidade são previsíveis.
Num mundo ou num país onde o ódio grassa, onde a intolerância levanta voz, onde alguns já recorrem à violência física para afirmar o seu pensamento, está na hora de nos levantarmos, de nos fazermos ouvir. Tolerar o intolerável do desprezo pelos valores basilares da democracia tem sido, historicamente, permitir a assinatura da sentença de morte da própria democracia.
Continuarmos a considerar que os discursos de ódio e os incitamentos à violência são utilizações extremas da liberdade de expressão, resguardadas no âmbito dessa mesma liberdade, é um caminho para o caos.
Esta luta é uma responsabilidade individual e coletiva. Esta é uma luta da decência contra a imoralidade. É uma luta que convoca o Estado de direito, tratando como crimes que são o que diariamente polui o nosso espaço comum.
As ditaduras que pululam o nosso Mundo, as antigas e as novas, são uma ameaça à humanidade. Os atos covardes de violência, de ofensa, de calúnia e difamação são o substrato que alimenta nas nossas cada vez mais escassas democracias a flor tóxica do medo, do ódio e da destruição dos valores humanistas.
É, pois, necessário que mais vozes se levantem, que não nos cansemos de defender o que está sob ataque. É urgente contrapor a verdade à mentira.
Não basta condenar os que agridem atores de teatro ou voluntárias que se dedicam a ajudar os mais frágeis. É preciso condenar os que se regozijam com esses atos.
É preciso que não esqueçamos que um dia será à nossa porta ou em nossa casa. Que as vítimas seremos nós ou os nossos.Assim já foi tantas vezes. Não podemos permitir que volte a ser.