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Este Governo é uma errata. Imensa e absoluta. Uma errata orçamental a começar. Mas mais. Uma errata de 46 páginas ao texto da Direção-Geral do Orçamento, que pela dimensão hiperbólica, diga-se, de errata tem pouco. Pior, coisa rara, uma errata que volta a errar.
Uma errata que diz que:
- Onde se lê "invertendo a política dos últimos anos, perspetiva-se uma redução da carga fiscal em 0,1 p.p. do PIB em 2016", deve ler-se "invertendo a política dos últimos anos, perspetiva-se uma manutenção da carga fiscal em 2016".
Sendo que, como o prof. João Duque esclarece, "usando os dados do PIB publicados pelo INE e os dados do Orçamento sobre o seu crescimento, apura-se que a carga fiscal sobe de 37,6% em 2015 para 37,8% em 2016, segundo a definição do próprio OE para este indicador".
Significa que uma errata digna desse nome, diria que "invertendo a política dos últimos anos, perspetiva-se um agravamento da carga fiscal em 0,2 p.p. do PIB em 2016".
Onde para o programa de 138 páginas, com que o PS fazia em novembro passado títulos, a propósito do fim das políticas de austeridade?
Poderia pensar-se que este Governo tem um problema com as erratas. Mas não. Tem um problema com a verdade. Acontece muito a quem promete o que antecipadamente sabe não poder cumprir. A realidade é sempre mais forte. E depois, corrigir custa.
Fosse o Governo capaz de redigir democraticamente uma errata de si próprio, reconheceria o óbvio. E no dia seguinte já não estaria em funções.
O Governo é uma errata de legitimidade. Governa sozinho tendo perdido as eleições.
É uma errata política. Diz-se socialista, mas quem manda verdadeiramente é o BE e o PCP, dizem que também a CGTP, que por seu lado mandará mais no PCP do que o Comité Central, num enredo digno de um tratado sobre o tema.
É uma errata de crença. O Governo faz fé sozinho, naquilo que o resto do Mundo que faz contas assegura não ser possível.
É uma errata de cinismo. Numa simples entrevista, António Costa consegue apelar ao PSD para que seja "parceiro ativo" e aceite "consensos políticos" em relação a matérias essenciais, sem se rir. O mesmo secretário-geral do PS, que enquanto candidato (derrotado) antecipou em campanha que não viabilizaria um orçamento do Estado que desconhecia, se PSD e CDS vencessem as eleições e recusou quaisquer acordos fundamentais, da Segurança Social ao Sistema Nacional de Saúde.
É também uma errata de capricho. Reverte, reverte e reverte, porque sim. O drama é que não basta reverter. Vai ser preciso pagar.
Pagaremos todos, ninguém duvide. Temo que não será pouco.