O único lugar para onde todos nos deslocamos todos os dias, durante todos os anos das duas primeiras décadas das nossas vidas, é a escola.
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Contudo, acabado este ciclo, o ciclo obrigatório, e ainda que não para todos, todos voltamos de novo à escola, mas agora à escola da nossa escolha, seja ela técnica, profissional ou superior ou, no pior dos casos, à velha "escola da vida"! Depois, regressamos outra vez à escola mas agora como pais acompanhando os filhos ou iniciando novos ciclos de aprendizagem. Mas também podemos regressar como professores, como colaboradores ou até como simples cidadãos que, por dever de cidadania, por ali cumprem outras escolas que, não raro, se prolongam pelo tempo em que todos temos mais tempo, mais sabedoria e mais disponibilidade para os outros ou em que olhamos para tudo e para todos com olhos mais doces!
Em qualquer caso, a escola é, seguramente, um dos centros da nossa vida. Todos sabemos que a vida sem escola não é possível, não faz sentido e, em bom rigor, não existe. A escola é o nosso primeiro e último espaço de referência, ainda que nem todos o tenhamos tido como devíamos.
A escola é uma das instituições da cidade no sentido em que Louis Kahn (notável arquitecto e teórico russo naturalizado americano que viveu, construiu e escreveu entre 1901 e 1974) define as instituições do homem. A escola é, por isso, uma centralidade. Ou seja: não há outra hipótese para a definição, para a concepção e para a localização da escola que não seja, exactamente, como centro das nossas vidas, no centro da comunidade a que pertencemos e, por extensão, no centro da cidade em que vivemos. E uma centralidade é algo que tem, exactamente, a qualidade de ser centro, ou seja, a qualidade do lugar em torno do qual todos os outros lugares se organizam.
A verdade é que todos sabemos que isto sempre foi assim e que ainda hoje assim é. Há muito que todos sabemos que nada de verdadeiramente duradouro, consistente e estruturante pode ser feito sem que a "instituição escola" o seja também. No fundo, todos sabemos que esta é a grande reforma/revolução que falta fazer e que é cada vez mais urgente fazer. Por isso, a "escola" anima sempre todos os discursos, tem sempre lugar em todos os "programas" e é sempre objecto dos mais solenes compromissos. Que, no entanto, depois, nunca estão disponíveis e quando estão, são sempre parcos, escassos ou incertos.
Claro que a escola são os alunos, os professores e os seus mais diversos funcionários e colaboradores. Mas também são escola, os pais, os educadores e todas as instituições que ocupam o mesmo espaço da cidade ou apenas os cidadãos que, pura e simplesmente, vivem à sua volta. E esta "centralidade" que é a "instituição escola" é-o porque está ou deveria estar sempre no centro que é mesmo que estar no meio de tudo. E estar no meio é estar num lugar aonde todos possam ir com facilidade a partir das suas casas e sem necessidade de grandes meios auxiliares de aproximação como são os transportes motorizados (ligeiros ou pesados, públicos ou privados), com a máxima segurança a qualquer hora do dia.
Só que, para esta grande revolução social, cultural e urbana que nunca fizemos, nunca conseguimos reunir os meios adequados. E foi o eterno adiamento da transformação mais estruturante que todos sabíamos que tínhamos que fazer um dia.
Até que, um dia, e como que por milagre, e mesmo em tempos de crise, os deuses decidiram, subitamente, ser pródigos e ordenar que o maná fosse generoso e nos cobrisse de milhões. E, então, esses milhões que nunca tivemos, aí estão. Atarantados, desatámos a distribuí-los por onde e por quem estava mais à mão ou mais ao pé. Depressa e de qualquer modo e também sem critério que alguma vez pudesse ser visto e afinado com mil cuidados. E assim estamos a "cimentar" urgentemente tudo e duma só vez, algum do bem que fomos fazendo, muito do mal que também fizemos e nada do que de muito bom tínhamos obrigação de fazer agora. E, mais uma vez, ocupámo-nos de quê? Da escola que (não) temos e de mais construção civil!