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O grande tema das últimas semanas é o da escolha do melhor candidato presidencial nas eleições do próximo dia 23. Neste momento, é natural que os portugueses suspirem pelo fim desta campanha. Esta revelou-se num momento de todos contra um. Todos contra Cavaco Silva. Bem sei que quanto melhor é o candidato, maior é a tentação de todos os outros se virarem contra ele. Ninguém se preocupa em criticar inexistências políticas ou eleitorais. No entanto, isso não invalida a existência de limites para tudo. Foi penoso assistir à transformação de candidatos sérios em candidatos tablóides. Tenho pena que, com diferenças de forma, o nivelamento de alguns tenha sido feito por baixo.
Valeu, neste plano, a excepção do candidato Cavaco Silva. Foi um candidato livre, sem contradições de discurso e com clareza de princípios. Não precisou de subterfúgios para falar da interpretação que faz dos poderes presidenciais, ou para esclarecer as suas ideias sobre o exercício dos poderes de influência e de árbitro na realidade política nacional. Foi um candidato com coragem nos temas difíceis. Por todas estas razões, ganhou em respeitabilidade e assumiu uma natureza transversal. É uma candidatura aberta aos diferentes quadrantes, que defende a estabilidade e que está imune a utopias. É a candidatura que não sofre de contradições partidárias. Ninguém na candidatura de Cavaco Silva se preocupa em acusar o companheiro do lado.
Todas estas razões levam a que o único apelo a fazer seja contra a abstenção. A abstenção é o vírus da democracia e a vitória do ócio político. Não se pode acreditar em resultados já feitos. O virtuosismo da igualdade de todos os votos não pode cair perante a preguiça em ir votar. Apenas estranho que este apelo apenas seja feito por Cavaco Silva e seja esquecido por aqueles que enchem o peito de ar e se autoproclamam pais da nossa democracia.