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Durante três anos o país procurou corrigir as suas debilidades e desequilíbrios estruturais através da implementação de um programa económico e financeiro exigente. Este programa visou o saneamento das finanças públicas, o reforço da solidez dos bancos e a melhoria das condições de funcionamento da economia. A má gestão política da sua aplicação acabou por exigir sacrifícios para além dos inicialmente previstos e produzir efeitos que ficaram aquém dos programados. As debilidades estruturais do país ainda não foram sanadas. Subsistem fragilidades económicas e financeiras por resolver. As finanças públicas ainda estão longe da situação "próxima do equilíbrio" exigida pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento e consagrada no Tratado Orçamental. O endividamento é elevado, continuando a fragilizar o sistema bancário. O crescimento é insuficiente.
Porque beneficiou da ajuda financeira concedida no âmbito dos mecanismos europeus existentes para o efeito, Portugal, enquanto não pagar 75% dos créditos assim obtidos, está sujeito a um acompanhamento e vigilância mais exigentes por parte dos seus pares, da Comissão Europeia e do BCE. Não é portanto de estranhar que Portugal continue a merecer as atenções dos nossos parceiros e dos meios financeiros internacionais. Porque há ainda desafios importantes a vencer, não é de estranhar que cidadãos, empresas, investidores, instituições internacionais, etc., queiram saber como iremos prosseguir com o ajustamento de que o país precisa e, ao mesmo tempo, como aliviar os sacrifícios impostos no passado recente. Não é por isso de estranhar que o ambiente de indefinição governativa que vivemos coloque os holofotes internacionais em cima de nós. Prolongar esta situação gerará uma onda de incerteza e ceticismo difícil de inverter no futuro.
Ressuscitar fantasmas do passado, ignorando que o país vive agora num contexto institucional e europeu diferente e mais exigente, só produzirá ruído e medo desnecessários e prejudiciais. A crispação e irritação de uns, tal como o voluntarismo e otimismo de outros, são de evitar. Alimentam expectativas infundadas. Este é assim um tempo exigente que requer rigor e clareza na comunicação. Requer firmeza na prossecução dos objetivos e sinais claros de determinação no cumprimento dos compromissos externos assumidos.
Uma célere decisão do presidente da República ajudará à rápida clarificação da situação. Por enquanto, estamos como os personagens da famosa peça de Samuel Beckett que esperavam por alguém que não sabiam bem quem era.