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No PSD, Pedro Passos Coelho vai dando cartas. É até possível que ele não seja o próximo líder do partido, mas tudo o que acontece por estes dias acontece por causa dele. Passos Coelho é a única pessoa do PSD que está pronta para assumir os comandos. Desde que foi derrotado, recuou o necessário, aceitou com o sorriso possível a afronta de Ferreira Leite não o colocar na lista de candidatos a deputados e deixou correr o tempo. Hoje, tem a seu lado os mesmos que estavam com ele quando perdeu e possivelmente uns poucos mais. Está pronto. Quer. Tanto que até aceitou o calendário eleitoral que a líder marcou.
O natural seria que os outros candidatos à liderança fossem emergindo. Mas não é assim. Marcelo já garantiu (a garantia vale o que vale) que não irá para o ringue combater pela liderança. A recusa tem uma leitura clara, aliás reforçada pela proposta de uma cimeira de notáveis que o próprio avançou: ele estará pronto para ocupar a liderança, mas não está preparado para um combate em que pode sair derrotado. Para além disso, Marcelo sabe que na hora das Presidenciais, se Cavaco não avançar ou se o PSD decidir não apoiar Cavaco, o seu nome estará sempre sobre a mesa. Recusando agora ir para o ringue, Marcelo só avançará se mais ninguém se dispuser à luta com Passos Coelho e se surgir uma vaga de fundo por ele, Marcelo, tão grande que seja irrecusável.
Manuela Ferreira Leite e os que lhe são próximos desejam Paulo Rangel. No fundo, querem um notável que afaste de vez Passos Coelho, que não consideram um notável. É uma atitude de desespero, de aristocratas perdidos, porque Rangel tem pouco tempo de partido e todos sabemos que as máquinas partidárias não gostam de figuras emergentes. Depois, há que contar ainda com o peso de Morais Sarmento e da distrital do Porto, que sempre terão uma palavra a dizer sobre o sucesso da futura liderança.
Não sabendo esperar pelo fim do mandato de Ferreira Leite - afinal de contas até a própria quer ver-se livre do encargo antes de Maio - o PSD vai dando de si uma imagem desacreditada. O PSD regressou ao ponto de descrédito de que partiu: recuperou nas Europeias, mas depressa voltou ao fundo, apesar da curta vantagem conseguida nas Autárquicas. Não há quem mande. Não há quem oriente. Pior: não há uma linha de rumo. Vem aí o programa do Governo e mais duas ou três questões quentes no Parlamento, entre elas a avaliação dos professores, e lá para Janeiro o Orçamento. A opinião dita oficial do PSD contará pouco, pois a própria líder, derrotada nas eleições e dizendo-se de saída, não tem condições para ser ouvida. Os microfones continuarão estendidos para Passos Coelho, pelo menos enquanto ele estiver no ringue à espera de um "challenger". Até mais alguém dar um passo em frente, o PSD continua um partido adiado.