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O Governo de António Costa é, por estes dias, pouco mais do que produtor de abundantes imagens. Vemo-los a passar, incessantes, pelos ecrãs que espelham a superabundância de acontecimentos evitáveis e de casos indesejáveis. Não creio que haja modo de sair deste redemoinho alimentado pelo descalabro da política e pela inexistência de políticas. O eixo saiu da roda. E, a menos que o primeiro-ministro saque da manga um par de ases, fora da roda continuará. A tensão que cresce na rua e se alinhava nas sedes dos sindicatos, somada ao que continuará a faltar no bolso dos portugueses e na conta bancária de quem paga crédito à habitação, fará o resto. Rumamos à tempestade perfeita. Que nem um timoneiro com o calibre e teimosia de Costa conseguirá amainar. A democracia tratará de repor o eixo na roda? Sim, mais cedo do que tarde. Onde está, então, o problema? No tempo. No tempo que não temos. A crise política em curso bate de frente com aquela que, porventura, será a última oportunidade para colocarmos o país nos carris. Os elevadíssimos montantes provenientes dos fundos comunitários e do Plano de Recuperação e Resiliência são a única tábua a que nos podemos agarrar para evitar que o barco afunde ainda mais. Que a banda continue a tocar enquanto a tragédia ocorre será sinal de desatino irremediável. É este o grande confronto: acreditamos na bênção dos deuses e damos tempo a um Governo desnorteado para seguir caminho, ou cortamos cerce o desvario em curso e corremos todos os riscos inerentes a um reset democrático? Há vantagens e desvantagens nas duas opções. O sinal mais evidente deste beco com pouca saída tem saído da boca do presidente da República. Marcelo sabe o que o país arrisca: olha para a direita e vê o PSD (ainda) pouco maduro, o Chega a "institucionalizar-se" e a Iniciativa Liberal a reagrupar-se; olha para esquerda e não vê mais nada senão o PS. No meio está o país. Estamos nós. À espera. Tristemente à espera.
Jornalista