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Os anglo-saxónicos designam este período do ano pela "silly season". Em Portugal, não existe propriamente uma "silly season" delimitada pelo calendário ou pelas férias. É um contínuo. Portugal, dos pequeninos, vegeta numa estação única, permanentemente estúpida. Ou, parafraseando a jornalista Ana Sá Lopes, no "Público", trata-se de um país onde estão permanentemente a fazer de nós parvos. Vejamos dois exemplos recentes. O dr. Medina, quinto ou sexto na hierarquia governativa, "vingou-se" da humilhação e contratou um ex várias coisas - jornalista, director de jornais e de televisões, administrador de fundações e namoradinho de algumas das "namoradinhas de Portugal" - para seu consultor nas Finanças. A inteligência vai "avaliar" políticas públicas, interpelar "stakeholders" (a parolice oficiosa não dispensa estes anglicismos), sugerir "implementações" e obrar "monitorizações". Por uma choruda avença superior ao ordenado do próprio ministro. Já antes, na Câmara de Lisboa, Medina ajustara directamente com o seu novo consultor, e com a namorada dele, uma colaboração, certamente no superior interesse dos lisboetas, no valor de 30 mil euros. Por exemplo, se foi para matar ratos nas ruas de Lisboa, falhou. Por sua vez, Figueiredo, o consultor, levou Medina para comentador no canal que ele então dirigia, a TVI, uma espécie de "Diário da Manhã" do PS e do regime desde os idos dele, do Crespo e, agora, da CNNP, 24 horas por dia. Ora isto representa, no mínimo, uma provocação às dezenas de trabalhadores em funções públicas que operam, precisamente, há anos em auditoria e controlo das políticas públicas. Medina não descobriu a roda dentada na pessoa do sr. Figueiredo. Mas insultou as funções e o interesse públicos com esta nomeação. O segundo exemplo da estação parva foi a inominável "entrevista" do presidente da República à CNNP, onde ele fazia de motorista da improvável Anabela Neves. Dividida em duas partes, a conversa de chacha revelou-nos (como se ainda fosse preciso) um presidente politicamente desempregado, depois da maioria absoluta do PS que ele mesmo facilitou, na sequência das "ameaças" sem recuo por causa do orçamento. Segundo Marcelo, Costa foi a esponja que o absorveu em vez da direita que não terá sabido "colar-se" a ele. O resto, deixa semanalmente para o "Expresso", que Marcelo toma pela sua privativa revista "Maria". Imagina Portugal como um imenso acampamento de "parentes" seus (deve ser por causa das selfies e da beijocada), fora da "bolha mediática" (a única que verdadeiramente lhe interessa) e que somos todos famosamente parvos. Num rali, de escuteiros, até se pôs aos saltinhos no palco e a mandar saltar os presentes, "olé, olé". A gente puxa, de facto, mas isto não dá mais. O Grande Morto do Vimieiro não se enganou.
o autor escreve segundo a antiga ortografia
Jurista