A Europa não marcou a campanha eleitoral
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Os candidatos que hoje fecham a volta ao país não se cansaram muito a falar da Europa. Andaram mais ocupados com a política interna, um ângulo que os jornalistas também insistiram em ter presente na cobertura mediática. É pena, porque a União Europeia está hoje sitiada por vários perigos, sendo vital uma atenção redobrada àquilo que se passa.
Os média internacionais acentuaram esta semana uma preocupação que não está muito presente em Portugal: a subida expressiva dos partidos nacionalistas-populistas. Vários analistas preveem que os dois grupos que congregam os partidos de extrema-direita - Identidade e Democracia e Conservadores e Reformistas - tenham um aumento substancial de deputados, o que desequilibrará o atual balanço de forças no Parlamento Europeu. Mas disso pouco se falou por cá. Porque também o Chega não teve propriamente muito protagonismo nesta campanha devido a um candidato com muitas dificuldades em se posicionar nos debates e em conquistar na rua um lugar distintivo relativamente a André Ventura. As sondagens também não demonstraram qualquer subida em relação ao que conhecíamos das legislativas...
Outra das preocupações que estão na ordem do dia é a desinformação e os atos de sabotagem que poderão intensificar-se até domingo com vista a interferir no ato eleitoral. Na edição de ontem, a revista francesa “L’Express” reconhecia a dificuldade em coordenar 27 serviços de informação, muitos dos quais com lacunas muito profundas, mas também constatava ser esse um desafio a agarrar com determinação, sobretudo num tempo em que a inteligência artificial por certo será um coadjuvante fulcral em processos de manipulação cada vez mais sofisticados. Numa peça que intitulava “Bruxelas, ninho de espiões”, lembrava-se que, em maio, nove mil colaboradores do Parlamento Europeu foram alvo de uma fuga de dados pessoais, resultante de um ataque informático que fez dispersar muita informação. Destes novos riscos também não se disse muito nesta campanha...
Hoje, nos vários países da União Europeia, as diferentes candidaturas vão concentrar-se no apelo ao voto. Em Portugal, esse esforço será maior, visto amanhã ser dia de reflexão, um anacronismo que a Lei Eleitoral ainda não ultrapassou. Para trás ficam vários dias de campanha eleitoral, num formato que pouco se atualizou. Não é, pois, de admirar que no domingo haja um índice elevado de abstenção. Para quê votar, se ninguém se preocupa em explicar o que faz um deputado europeu? Talvez seja mais prudente pensar que o país que somos tem como ponto vital de decisão a União Europeia. E o nosso voto conta no rumo político que queremos ter enquanto continente.