O líder do PS deu ordem para que, a partir de hoje, o partido fale da Europa sem rodeios e comedimentos. O país precisa de saber o que os socialistas pensam sobre o assunto. O pensamento, exposto em primeira instância por Seguro e em segunda pelo cabeça de lista às eleições europeias, o magnífico Francisco Assis, virá, como é óbvio, misturado com duras e assertivas críticas à atuação do Governo (aviso: neste exercício de oratória, o histriónico Francisco bate aos pontos o envergonhado António).
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É a partir da discussão sobre a Europa que Seguro deseja quebrar a espinha ao Governo (leia-se: esperar que um novo desastre eleitoral da coligação crie, pelo menos, condições para que comece a solidificar a ideia de que com estes não vamos lá!). Ora, tentar quebrar a espinha ao Governo implica carregar nos negros ao longo da campanha que aí vem. Primeiro paradoxo que queima nas mãos de Seguro: como se discute a Europa - e há tanto para discutir! - tocando no quotidiano dos portugueses, naquilo que lhes dói e que os pode levar às urnas para depositar um voto de protesto? Segundo paradoxo: se o PS insiste em pegar no tema da crise vai enrolar-se numa discussão que cansará os portugueses. Isto é: por um lado, teremos Seguro a falar do desemprego, da emigração, do titânico (e real) esforço dos portugueses; e, por outro lado, teremos os candidatos da coligação a lembrar que o desemprego está a cair, que as exportações estão a subir, que o crescimento económico já se vê... E por aí fora, num revisitar, afinal, daquilo a que todos os dias assistimos.
Este andamento beneficia mais o Governo do que a Oposição. Mas dele apenas se pode queixar a Oposição, designadamente o PS. Porquê? Porque desenhou uma tática suicida, traduzida no facto de estar obrigado a ir de encontro ao Governo, mais cedo ou mais tarde. Verdade que o erro não é apenas do PS, é de todos os partidos da Oposição ("É deprimente ouvir a Oposição em Portugal! Todos, à vez, sucumbem às suas clientelas e dizem aquilo que julgam necessário para as satisfazer", escreveu, ontem, no DN, João Marcelino). Mas é o PS quem mais tem a perder.
É óbvio que, depois das eleições europeias, Seguro terá de emendar a mão. Como? Fugindo à radicalização, para seguir o caminho da normalização. E isso implica falar com o Governo para que, em nome do futuro do país, se estabeleça um compromisso, o mais amplo possível, entre os chamados partidos do arco da governabilidade.
É verdade que o Governo afastou muitas vezes o PS desse incontornável diálogo, por razões de mera tática política. Mas um erro não pode justificar outro. E Seguro, de resto, só tem a ganhar com a estabilidade que um acordo deste género proporcionará ao país. Desde logo, a imagem de "estadista" de Seguro subiria uns bons pontos. O debate sobre a Europa, esse, andará perdido aqui pelo meio, como está bom de ver...