As guerras são sempre más. Trazem destruição e morte. Sabemo-lo hoje melhor do que ontem, com as notícias que nos chegam da Ucrânia. Mas não deixam também de ser momentos que obrigam os povos a refletir sobre o que querem para o seu futuro.
Corpo do artigo
É verdade que os seres humanos vivem no presente. Mas nada seríamos sem a esperança no futuro. Como pude ler, há meia dúzia de anos, num muro do Bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, em letras roxas sobre fundo amarelo, "não fosse o amanhã, que dia agitado hoje seria". Não creio que fosse um dia memorável.
É por isso que leio, com regozijo, que Ursula von der Leyen e Emmanuel Macron aproveitaram o Dia da Europa - que se pretende que seja um dia de celebração da paz - para nos lançar (a nós, europeus) novos desafios. Em primeiro lugar, o aprofundamento da União Europeia, acabando com a unanimidade em matérias de Defesa, Política Externa, Saúde e Fiscalidade. No fundo, eliminar os últimos resquícios dessa ficção a que chamamos soberania do Estado-Nação. Dirão alguns (como disse António Costa) que, para aprovar novos tratados, que acabem com a unanimidade, é preciso que haja unanimidade. Dizendo, no fundo, que é impossível. Lembremo-nos apenas que também parecia impossível conseguir a unanimidade europeia para emitir dívida pública comum e afinal ela aí está, materializada no Plano de Recuperação e Resiliência.
A segunda proposta de Macron é igualmente desafiante. A criação de uma nova comunidade política europeia, em que o grau de compromisso comum é menor do que o da União Europeia, mas que permitiria, ainda assim, alargar a mais países um espaço de cooperação política, energética, de segurança e de livre circulação de pessoas. Uma Europa que iria do Atlântico até às estepes ucranianas (a Rússia, por razões óbvias, fica de quarentena). Conjugado com as propostas que já existem para aprofundar a democracia europeia (eleição popular e democrática do presidente da Comissão, mais poderes para o Parlamento e menos para o Conselho, partidos transnacionais, etc....), o projeto de Macron aponta para uma Europa da liberdade, igualdade e fraternidade. Não é essa a Europa que queremos?
*Diretor-adjunto