<p>Omaior partido da Oposição ainda é alternativa? Os portugueses querem saber que propostas preconiza o PSD para o país, mas não parece ser esse o entendimento da sua actual líder. O seu discurso limita-se a prometer maior competência e novos actores para a condução das diversas políticas sectoriais… do PS. Ferreira Leite parece, pois, apostada em obter apenas o segundo lugar nas eleições legislativas do próximo ano e vender caro um eventual apoio à governação de Sócrates.</p>
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A crise financeira e as suas repercussões na actividade económica infligirão enormes danos eleitorais no partido do Governo. Não vislumbrando alternativa à direita do PS, os eleitores expressarão o seu descontentamento votando à esquerda, no Partido Comunista ou no Bloco, retirando a maioria absoluta a Sócrates. Com uma oposição firme à esquerda, os socialistas procurarão apoios à direita, através de acordos de incidência parlamentar ou, mais previsivelmente, de uma coligação governativa. Face à irrelevância do CDS, será ao PSD que caberá o papel de muleta de Sócrates, viabilizando um novo bloco central. Daqui a cerca de um ano, esta solução será impingida aos portugueses como inevitável e de salvação nacional. Será abençoada pelo presidente da República, a quem, em troca, Sócrates patrocinará provavelmente a reeleição.
O Governo que interprete esta solução institucionalizará, a nível político, o bloco central de interesses que já domina o país no plano económico e social. Assistiremos a um dos mais negros períodos da nossa já moribunda democracia. Os dinheiros do Estado vão correr à tripa-forra nos bolsos dos empresários, banqueiros, advogados e consultores ligados às direcções dos dois partidos do arco governativo, agravando a promiscuidade dominante entre os mundos da política e dos negócios.
Esta nova união nacional promoverá os mega-investimentos públicos que a crise aparentemente justifica, os neokeynesianos doutrinam e o presidente da República apadrinha. Construir-se-á o TGV, desbaratando 15 mil milhões de euros num projecto absolutamente inútil. Além do novo aeroporto de Lisboa, da nova travessia sobre o Tejo e o que mais virá.
Envergonhando a sua história, o PSD será protagonista desta tragédia. Quando mais os portugueses precisariam que se assumisse como partido de fractura, este apresenta-se como o "partido da factura". Negociando votos em troca de favores a amigos.