António Costa não gosta de touradas. Disse-o quando a ministra da Cultura anunciou um aumento de impostos para aquela atividade e quando sugeriu, numa frase não suficientemente enigmática, que os que se excitam a aplaudir touros ensanguentados na arena representam um retrocesso civilizacional.
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Na verdade, o que Graça Fonseca queria realmente dizer e não teve coragem é que Portugal devia acabar com as touradas. Mas ela sabe que o mesmo Parlamento onde tornou público o seu gosto tinha chumbado, apenas quatro meses antes, a abolição desta atividade, com os votos favoráveis dos socialistas. Bem, mas voltando a António Costa.
O primeiro-ministro respeita quem gosta de touradas, e respeita ainda mais quem gosta e pode vir a votar nele, mas choca-o que a RTP transmita o que classifica de "manifestação pública de uma cultura de violência ou de desfrute do sofrimento animal". Compreende-se a sua dupla repulsa: a emissão de touradas no canal público de televisão é apenas uma outra forma de pagarmos o espetáculo com os nossos impostos, via taxa audiovisual.
Mas há oito anos, o mesmo António Costa, então autarca de Lisboa, aplaudiu uma tourada no Campo Pequeno e condecorou, inclusivamente, um forcado. Na deliberação municipal que subscreveu, enfatizava-se, como explicação para a honra municipal concedida a José Luís Gomes, a "sensibilidade e valentia próprios" da "arte taurina".
Ora, não consta que, desde então, a tal arte taurina tenha assumido a forma de um bailado clássico e que as vidas de milhares de touros tenham sido poupadas. Por isso, ou António Costa mudou de opinião (e se mudou era tão fácil tê-lo dito...), ou então é novamente vítima do contexto e das circunstâncias eleitorais. Em 2010, quis agradar aos lisboetas que gostavam de touradas e podiam votar nele em 2013. Em 2018, quer agradar aos portugueses que gostam e aos que não gostam de touradas e podem votar nele em 2019. O contexto é diferente, as circunstâncias eleitorais também. A tática, essa, é a mesma.
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