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O Governo já não engana ninguém. Até a alta finança, a quem diligentemente serviu, só lhe prolonga o coma até o Poder mudar por quem assegure as mesmas políticas. O desnorte é total e a própria lei é tábua rasa no léxico e na ética - que se pensariam republicanos - dos seus ministros. A Lei de Enquadramento Orçamental que a todos obriga, é clara: a proposta orçamental tem de entrar até 15 de Outubro e (artigo 34.º, n.º2) do Orçamento do Estado faz parte integrante e obrigatório, o seu relatório. Conclusão única: o Governo não entregou o Orçamento nos prazos legais. Em vez de pedir desculpa, Teixeira dos Santos entreteve-se a justificar atrasos e a tentar enganar-nos, dizendo que, apesar dos transtornos, só faltariam "uns documentos que acompanham o orçamento"!
Que enorme exemplo de falta de competência e de eficácia deu provas o Governo, sobretudo depois de ter andado 15 dias a "invocar os mercados" para pedir às oposições celeridade na aprovação do Orçamento...
Do ponto de vista económico e social, teria sido, porém, bem melhor que tão mau Orçamento não tivesse entrado.
Este talvez seja o Orçamento de que os mercados precisam e os banqueiros exigem e ordenam. Não é porém o Orçamento que resguarde o país, impeça a estagnação ou uma nova recessão, que combata a catástrofe do desemprego, que permita ao país crescer de forma autónoma e sustentada, produzindo mais e melhor para substituir importações, alimentar o mercado interno e aumentar as exportações, um Orçamento que proteja quem pouco ou nada tem, que defenda o futuro dos jovens e o presente dos reformados. Mas este é seguramente o Orçamento dos impostos da propaganda, que faz de conta que também faz pagar a alta finança e os grupos económicos pela dureza da crise.