Ler a primeira entrevista concedida pelo ministro da Defesa após o anunciado assalto aos paióis nacionais de Tancos, já lá vão dois meses e meio, é um exercício inquietante. Primeiro, porque ficamos a saber que não há qualquer inventário que permita saber a todo o momento o material de guerra existente nas várias instalações militares. Depois, porque Azeredo Lopes chega a questionar, perante a falta de evidências materiais do furto, que ele possa efetivamente ter existido. Admite-se que algures antes de 28 de junho houve centenas de granadas, explosivos e munições a desaparecer. E é tudo.
Apesar de ter já recebido diversos relatórios de serviços que tutela, Azeredo Lopes não só não os tornou públicos, como não enviou as conclusões à Assembleia da República. As suas declarações à TSF e ao "Diário de Notícias" apontam aspetos genéricos a melhorar para evitar que o incidente se repita, descartam a todo o momento responsabilidades sobre as chefias militares ou sobre o conhecimento de eventuais fragilidades de segurança e tentam convencer-nos de que o furto não teve, afinal, a gravidade que lhe foi atribuída.
Ao criticar o "impacto mediático desproporcional" do assalto, o ministro da Defesa atira-se em diferentes momentos, ao longo da entrevista, a jornalistas, especialistas e opositores políticos. Considera "escandalosa a forma como foi aumentada a gravidade" do assunto, "por razões obviamente políticas", e queixa-se da "fornalha mediática, comunicacional e de especialistas".
Se o assunto não fosse tão sério e revelador das deficiências das nossas estruturas militares, nesta altura da entrevista o país inteiro deveria estar a rir. Depois de admitir que não sabe sequer se houve furto, que não é possível determinar em que data desapareceram os materiais bélicos, que não há uma inventariação permanente do material militar, que quem faz vigilância aos paióis não tem formação específica para isso e que, como ministro, não tem de saber se há ou não videovigilância a funcionar em locais sensíveis, Azeredo Lopes deve estar a brincar quando se queixa de aproveitamento político deste incidente. Se houvesse uma verdadeira fornalha a inflamar o assunto, nesta altura ele já não poderia estar a tutelar a Defesa Nacional.
* SUBDIRETORA
