O palco ainda não foi construído, mas já balança. Não porque em cima dele vão estar mil bispos, 300 concelebrantes, 200 membros do coro, 30 tradutores de língua gestual de vários idiomas, 90 membros de orquestra, convidados, staff e equipa técnica, mas sim porque ainda ninguém conseguiu explicar os cinco milhões de euros orçamentados para a construção da estrutura.
Corpo do artigo
A Igreja diz que não sabia. O número até "magoou" D. Américo Aguiar, presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023. Já o presidente da Câmara de Lisboa garantiu que foi a Igreja Católica a responsável pelos requisitos técnicos do palco. Mas, pelos vistos, não informou o bispo dos custos inerentes.
Não importa. Lisboa vai ser o centro do Mundo, diz o autarca. Mas importa. Importa porque são muitos milhões. Muitos argumentos para justificar o investimento. Muita estupefação. Muitas respostas para dar. Muitas contradições. É tudo muito. Sobretudo para uma cerimónia liderada por um Papa que, como avisou Marcelo Rebelo de Sousa, se caracteriza por uma visão simples, pobre, não triunfalista.
Com o palco a tremer por todos os lados e mea culpa feita, as entidades vão sentar-se de novo à mesa para verem, "com um microscópio, qual a razão deste valor", garante o bispo.
Católicos e não católicos, lisboetas e não lisboetas também farão a sua avaliação. E não precisarão de microscópio. Nem de muitas fórmulas Excel. Porque, nos últimos tempos, têm feito muitas contas de lápis e papel. Para pagar as contas ao final do mês.
Um palco é, sem dúvida, a estrutura mais importante de um grande festival. Imponentes, temáticos, com fogo de artifício, megaestruturas de iluminação, lasers. Já um palco para uma cerimónia religiosa não precisa de tanta grandiosidade. E usar a fé com argumentos de retorno financeiro não fica lá muito bem.
*Diretor-adjunto