Pela sexta vez consecutiva, a Finlândia é o país mais feliz do Mundo, de acordo com um relatório das Nações Unidas que avalia o bem-estar das populações em seis dimensões: PIB per capita real, apoio social, expectativa de vida saudável, liberdade para fazer escolhas, generosidade e perceção de corrupção. Num ranking de 150 nações liderado pelas nórdicas, Portugal está em 56.º. Pior do que nós, entre os parceiros europeus, só os gregos. Fado? Ou economia?
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Se o dinheiro compra a felicidade é um debate que saltou há muito da esfera da conversa de café para a investigação científica. Um famoso estudo realizado pelo psicólogo Daniel Kahneman e o economista Angus Deaton, divulgado em 2010, concluíra, em traços largos, que a felicidade aumentava proporcionalmente com o nível de riqueza até um certo patamar, sendo que, a partir daí, ter mais dinheiro não significa obrigatoriamente maior satisfação. Ou seja, os mais pobres são os mais descontentes com a vida, mas os milionários não são obrigatoriamente mais realizados do que aqueles que têm um razoável nível económico. Uma investigação recente, publicada no início deste mês, abre uma nova perspetiva - sintomática, talvez, dos tempos que vivemos. Com base nas respostas de 33 mil americanos, Matthew Killingsworth, doutorado em Psicologia por Harvard, concluiu que, afinal, o contentamento vai aumentando sempre em proporção à riqueza. Por vários motivos, e um deles é a perceção de controlo decorrente da abundância financeira.
Não por acaso, os países onde as populações relatam maior bem-estar existencial são os mais ricos, com índices de segurança e proteção social mais elevados. Por cá, a escalada do custo da alimentação e dos juros conjugada com baixos salários amplia o paradoxo português: temos bolsa de pobre e preços de europeus ricos. O novo programa de apoios do Governo destinado aos mais vulneráveis vai chegar a três milhões de pessoas. E outros tantos precisariam de ajuda para viver sem ansiedade económica.
Como Abraham Marlow postulou, na década de 1940, na inspirada pirâmide das necessidades, sem termos satisfeitas as necessidades mais básicas, a começar pelas fisiológicas (como a alimentação), tudo o resto está em causa. Afinal, a felicidade (também) se compra.
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