A Festa do Avante! não pode ser uma exceção
Não importa se serão cem mil, 50 mil ou 20 mil aqueles que participarão na Festa do Avante!, marcada para 4 a 6 de setembro, na Quinta da Atalaia. Em causa está uma iniciativa que promove o ajuntamento de uma quantidade substancial de pessoas, quando a pandemia continua ativa entre nós. E isso é inadmissível.
Corpo do artigo
Perante uma ameaça (real) de uma segunda vaga, vários países estão já a preparar medidas que evitem um outro confinamento de consequências devastadoras, como nos conta a edição desta semana do "Courrier International". A aproximação do outono, o regresso ao trabalho e à escola são um tríptico explosivo que ganhará corpo a partir de setembro. Um pouco por todo o lado, há um esforço em recriar ambientes que garantam algum distanciamento entre as pessoas. Nem sempre isso é possível pelas idiossincrasias dos espaços e das atividades. Por isso, custa muito ver aqui e ali iniciativas que provocam aquilo que as autoridades sanitárias colocam como sinal vermelho: ajuntamentos sociais. Exatamente o que a Festa do Avante! se propõe fazer.
Embora os números em Portugal não sejam alarmantes, o vírus continua ativo entre nós. Em vários países europeus regista-se um aumento significativo de infetados e essa tendência chegará inevitavelmente cá, nem que seja por importação de casos. Face a isto, será possível insistir em fazer a Festa do Avante!? A concretizar-se, estarão aqui em causa convicções ideológicas, razões financeiras ou uma teimosia cega?
Em finais de maio, o presidente da República promulgou um diploma que proíbe até 30 de setembro festivais e espetáculos, abrindo exceções sempre que essas iniciativas forem políticas, religiosas ou sociais. Mesmo para esses casos, estipula-se que haja lugares marcados e que se respeite o distanciamento físico. Até agora os promotores da Festa do Avante! nada disseram sobre lotação, marcação de lugares e distanciamento social. Apenas vieram falar no alargamento do terreno. Deveriam anunciar o contrário. Porque há um país a braços com uma pandemia, porque os partidos políticos têm uma responsabilidade social que nunca podem desbaratar qualquer que seja a (sua) causa, porque o tempo é de contenção ao nível das manifestações públicas de massa.
Lance-se, por exemplo, esta pergunta: que legitimidade terá o PCP em exigir do Governo medidas que garantam segurança sanitária nas escolas, se juntar na Atalaia milhares de pessoas para uma festa política? Pior: quem se responsabilizará por qualquer foco de covid-19 que se desencadeie aí nesses dias?
*Prof. associada com agregação da UMinho