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Quando as vozes que se levantam contra a democracia se tornam ameaçadoras, as eleições em França e no Reino Unido vieram lançar a esperança.
Nós, a maioria que tem estado por vezes demasiado silenciosa, somos ainda uma ampla maioria. Por vezes divididos, até zangados. Sempre, no momento crítico em que é necessário retomar o bom senso, a razão da tolerância e a força das convicções, capazes de nos unirmos.
Temos presente ainda as consequências do populismo que conduziu o Mundo à II Grande Guerra Mundial. Olhamos para a guerra na Europa, que voltou a assolar os nossos dias, e vemos forças populistas que se associam sem vergonha à agressão russa.
Convém que a maioria de democratas trace mais do que linhas vermelhas, num chão que é já um campo minado de “notícias falsas”, nome pomposo para as mentiras descaradas e para as construções demagógicas que chegam a raiar o delírio mitómano.
Sobre isto há ainda a temer a contaminação de áreas partidárias que pensávamos imunes a estas táticas de pura desonestidade, de manipulação das pessoas com falsidades descaradas, porque não podemos permitir que isso passe a ser a norma do combate político. Por mais duro que possa ser esse combate, qualquer democrata entende que recorrer às mesmas técnicas o reduzirá a mais um daqueles que diz desprezar, para lá do “não é não” superiormente apregoado.
O que fazer perante estas derivas populistas, tão ou mais perigosas que a esmagadora base de populismo que enxameia as redes sociais e o espaço público com cartazes que insinuam e acusam sem fundamento?
Resistir, resistir sempre. Com a consciência de que a política é uma causa nobre de serviço público. Com a confiança da maioria dos cidadãos que não se deixam enganar por atoardas. Com a certeza de que não podemos continuar a ser uma maioria silenciosa e de que só pela repetição da verdade podemos contrariar esses chorrilhos de mentiras.
Esta é uma tarefa de todos. Começa dentro dos partidos que se pautam pela lisura de comportamentos e pela decência no debate, que devem rejeitar os que se apropriam do seu espaço para o profanarem.
Não podemos ter dois pesos e duas medidas. O “não é não”, as linhas vermelhas, são válidas para todos. Os que se escondem na utilização dos mesmos métodos que dizem rejeitar não são dignos de estar na política.
É tempo de também a estes limitarmos o raio de ação.