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Nos próximos dias, disputam-se importantes eleições em dois países europeus. A seguir as sondagens, na Inglaterra, os trabalhistas conquistarão o Governo com uma esmagadora maioria absoluta; em França, ao contrário do que se previa, a União Nacional não tem a sua vitória assegurada, porque inesperadamente os partidos de Esquerda juntaram-se na Nova Frente Popular e estão a fazer periclitar uma extrema-direita que se convencera que seria fácil conquistar Matignon e, a seguir, o Eliseu.
Keir Starmer não é propriamente um líder carismático, nem a sua atividade na Oposição tem tido propriamente o rasgo que se espera de quem ambiciona ser primeiro-ministro. A sua afirmação pública resultou, acima de tudo, dos governos desastrosos de Liz Truss, Boris Johnson e Rishi Sunak, que, nestes últimos anos, afundaram qualquer hipótese de reabilitação dos conservadores que reúnem hoje intenções de voto muito baixas. Enquanto em vários países europeus os partidos de extrema-direita ganham robustez, e em alguns casos tomam mesmo conta do poder, em Inglaterra Nigel Farage, o líder do partido de Direita radical Reform UK e antigo defensor acérrimo do Brexit, não é uma ameaça para os Trabalhistas que, a 4 de julho, alcançarão, ao que tudo indica, uma vitória histórica.
Em França, as sondagens dão uma vitória à União Nacional, colocando em segundo lugar a Nova Frente Popular. A meia dúzia de pontos que os distancia está a provocar bastante ansiedade, sobretudo nos meios político e jornalístico. Também as redes sociais e os influencers andam por estes dias ao rubro, divididos em apoios mais extremados. Emmanuel Macron deve assistir a tudo algo incrédulo, ganhando progressivamente consciência da atitude imponderada que tomou ao provocar eleições antecipadas. Parte substancial dos média franceses mostra-se desfavorável a um país comandado pela extrema-direita, difundindo editoriais de grande músculo contra Jordan Bardella e Marine Le Pen. Os politólogos fazem uma leitura mais distanciada, enfatizando as dificuldades de um Parlamento constituído por dois blocos irreconciliáveis: um mais à Direita, outro mais à Esquerda. Nesse país ingovernável acrescenta-se ainda uma dificuldade de peso: o facto de o presidente estar impedido de dissolver a Assembleia Nacional por um período de um ano.
Apesar das dificuldades que se evidenciam, há um dado relevante: em contextos em que partidos de extrema-direita ganham espaço, a Esquerda ressurge com outra força. Esse equilíbrio periclitante que aí se estabelece pode provocar grande instabilidade no que à governabilidade diz respeito, mas também impede assinaláveis abusos de poder. E isso é de uma importância fulcral para o futuro das nossas democracias.