Corpo do artigo
Coimbra tem tudo para ser o epicentro da cultura em língua portuguesa. Falta-lhe apenas uma decisão: quer ser memória ou quer ser futuro?
Na Sala D. Afonso Henriques, no Convento São Francisco, um encontro histórico reuniu três Prémios Camões - ou quase. Manuel Alegre não pôde estar presente, mas enviou palavras.
Hélia Correia foi contundente. Disse, sem rodeios, o que poucos ousam admitir: o português está a desaparecer em Portugal. A língua desfaz-se na indiferença, na pressa, na falta de quem a ame de verdade. Enquanto isso, no Brasil, resiste e floresce. Porque há paixão. Porque há quem se importe.
Germano Almeida, num misto de ironia e encantamento, evocou Camões como quem o conhece pessoalmente. Mago da língua portuguesa, viajando, como sempre viajou, entre mundos, entre tempos, entre geografias. Ainda havemos de o ter cá.
Mas o que ficou claro, para além da grandiosidade dos convidados, foi a força desse encontro. Coimbra e a Universidade, quando caminham juntas, não fazem apenas homenagens - fazem história.
O evento foi irrepreensível. Organizado com precisão e visão, provou que Camões não é uma estátua, não é um nome em placas douradas. Camões é movimento. É invenção. É revolução. A cidade pode escolher se quer ser um museu a céu aberto ou um polo vibrante da língua que ajudou a moldar.
A força de Coimbra sempre veio do seu encontro com a Universidade. Quando cidade e academia se afastam, empobrecem-se mutuamente. Quando se unem, tornam-se imparáveis.
Este encontro mostrou um caminho. Se Coimbra entender que não basta ser a cidade do poeta, mas precisa de ser um epicentro vivo do seu espírito, pode recuperar o protagonismo cultural que já teve.
O tempo das homenagens vazias acabou. A língua é presente. E se Coimbra quiser, será futuro.