Há uma semana, a guerra na Ucrânia entrou inesperadamente pela minha aula de comunicação política. Ontem, aconteceu o mesmo. Procurei saber de que forma os estudantes, que tanto interesse manifestavam pelo tema, iam reunindo informação. A par de alguns correspondentes no terreno, os alunos estão a seguir publicações nas redes sociais de cidadãos ucranianos. Aí está o reflexo de uma nova era que se abre agora diante de nós.
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O presidente russo terá sido hábil na preparação de um conflito que certamente pensou ganhar em pouco tempo. No entanto, começamos a perceber que cometeu vários erros de cálculo. Não acautelou a resiliência do povo ucraniano, não antecipou a dimensão das sanções económicas adotadas em diferentes países, não acreditou na união do Ocidente contra um inimigo comum: ele próprio. E isso tudo terá acontecido, porque nunca valorizou a força da opinião pública, construída a partir da sua base: os cidadãos. Que rapidamente se agregaram em defesa de um povo brutalmente agredido.
Poderemos sempre considerar que um país invadido sem ter atacado ninguém merece a compaixão coletiva. É verdade. Também poderemos acrescentar que a força de Volodymyr Zelensky tem sido determinante nas frentes interna e externa. Socorrendo-se de uma comunicação aparentemente simples, o presidente ucraniano não tem falhado a esse nível. Em comunicações formais ou em vídeos produzidos por si próprio, ele ali está nos momentos certos, com frases que o mais competente assessor político dificilmente produziria sob tal pressão: "Preciso de munições, não de uma boleia", "provem que estão connosco"... Ninguém ficará indiferente a estas palavras, como também será impossível não reparar na indumentária verde camuflado com que a delegação ucraniana se apresenta à mesa de negociações. Em frente a sisudos e engravatados homens russos, ali estão os homens de Zelensky, em farda de combate, prontos para tudo.
Em paralelo com estas complexas movimentações táticas, há uma guerra que rebenta casas e rasga vidas. Disso falam os cidadãos. Que se dão a ver em profundo sofrimento e que lançam sucessivos pedidos de ajuda em vídeos e textos que vão publicando nas redes sociais. São esses conteúdos que nos fazem perceber o que está a acontecer e nos mobiliza à volta do povo ucraniano. O poder desta gente indefesa tem uma força tal que nenhuma coluna militar alguma vez conseguirá esmagar. E isto nunca se viu assim em nenhum outro conflito. E parece estar a baralhar tudo.
Professora associada com agregação da UMinho