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Estarão entre os 15 e os 20 por cento os eleitores que ainda não decidiram em quem votar a 10 de março. E isso, para além de ter um peso colossal nestas eleições legislativas, significa que os programas partidários são considerados vagos, as lideranças algo errantes e a política um campo sem força de atratividade. É essa franja da população que as candidaturas devem valorizar nestes dias de campanha eleitoral.
Como acontece há muitos anos, os líderes partidários continuam a promover iniciativas (comícios, almoços ou jantares) que reúnem aqueles com o voto já assegurado e quando na rua se depararam com pessoas desconhecidas, trocam ligeiras palavras, porque há sempre pressa para ir para outro lado. O que importa ali é, acima de tudo, criar momentos que proporcionem boas imagens para a televisão e uma cobertura mediática favorável ao partido. Quem fizer uma análise comparativa entre, por exemplo, as eleições legislativas de 2024 e de 2005, não encontrará guiões muito distintos. A volta pelo país será idêntica e as iniciativas também. Enquanto o país mudou muito, os partidos permaneceram iguais, porque têm sido incapazes de fomentar uma renovação mais profunda no seu interior. É verdade que as lideranças apresentam rostos novos, mas as máquinas partidárias continuam a desenvolver as mesmas estratégias e a adotar idênticas táticas. E isso é um grave problema para as nossas democracias.
Observando as contas das candidaturas nas diferentes redes sociais, há um elemento que sobressai: todos os líderes tendem a falar de si próprios, não cedendo grande espaço a outras pessoas. Percorrer as publicações de determinado partido é encontrar invariavelmente as fotografias do líder e as respetivas declarações que reiteradamente ouvimos na rádio e vimos na televisão. Tudo é demasiado monótono e aborrecido. Com estes conteúdos, replica-se uma comunicação que está fechada sobre si própria. E isso é desadequado a este tempo de incerteza e de enorme indecisão.
Pela frente, os partidos têm mais uma semana para a campanha eleitoral. Nestes dias, é preciso investir a sério em quem ainda não decidiu o voto. Dizem as sondagens que esta franja do eleitorado é jovem, pouco politizada e tende a decidir perto das eleições. Suspendam então os jantares com os convertidos e os passeios sufocados pelas bandeiras e pelas jotas. E vão conversar com as pessoas. Oiçam-nas. E valorizem aquilo que delas escutarem. Porque há um Portugal que continua ainda muito arredado das caravanas eleitorais. E isso pesa quando (não) se decide em quem votar.