Ameaçadoras e perigosas: o Papa chamou-lhes, esta semana, "obras do Diabo". A mentira, o boato, a propaganda, a intoxicação e as notícias falsas são tão antigas como a convivência entre a política e a informação. Mas a sua capacidade de multiplicação a partir de ferramentas tão poderosas como as redes sociais e o acesso quase universal à Internet converteram-nas em armas de influência massiva. Francisco condenou o fabrico e propagação de informação falsa que envenena os nossos dias, no mesmo dia que Mariya Gabriel, a comissária europeia para a economia digital, nomeava um grupo de 40 especialistas que levarão a Bruxelas, até final de março, propostas de combate à desinformação que circula nas redes.
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Dizia o outro que "a mentira dá a volta ao Mundo enquanto a verdade calça os sapatos". Pois, o último relatório Gartner, uma consultora internacional sobre previsões tecnológicas, previne que, em 2022, metade das notícias que circulam na Internet serão falsas. É um panorama desolador. Mais sombrio ainda se admitirmos que, até lá, serão insuficientes os instrumentos para combatê-las. Não haverá recursos técnicos ou humanos disponíveis para detetá-las, primeiro, e eliminá-las, depois. Espalhar notícias falsas é muito rápido e infinitamente mais barato do que produzir notícias reais: não requer verificar as fontes, nem contrastar os dados, muito menos contextualizá-los. Como dizia o poeta António Aleixo, "Para a mentira ser segura e atingir profundidade, tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade".
O ciberespaço e as redes eletrónicas são o novo teatro de guerra. O poder de fogo dos novos guerreiros, que substituem os exércitos tradicionais, não está apenas na possibilidade de atacar sistemas vitais de outros países - centros de contagem de votos, bancos de dados ou infraestruturas nevrálgicas, como centrais de energia, transportes ou abastecimento de água -, mas também na sua capacidade de influenciar de forma precisa e eficaz a opinião pública, quando se trata de atacar países, ou empresas, ou a reputação de um adversário. Os rumores sobre interferências externas nas últimas eleições americanas e holandesas, ou até nos recentes episódios do conflito nacionalista catalão, põem a descoberto uma das maiores vulnerabilidades dos estados democráticos, cuja natureza é aberta e plural. Na trincheira das liberdades, é dever dos estados defender a cidadania contra essa moderna forma de guerra, a "formiga-branca" na informação. Mas é também a hora de proclamarmos o valor das marcas. Como este JN, que completa em breve 130 anos de confiança.
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