Corpo do artigo
As eleições presidenciais colocam a França no centro das atenções de uma Europa que tenta sair de uma instabilidade que tarda em ser ultrapassada. Como registo de interesses, devo dizer que estou a falar do que sinto como meu segundo país. Algo que se foi enraizando, com uma marca especial dos tempos passados na década dos anos oitenta, durante a preparação do doutoramento. É um espaço único, que combina a história e a modernidade, adocicado por um caráter latino que aprecio e atenua alguma atitude chauvinista com que por vezes somos injustamente tentados a marcar o seu povo.
Adoro a França urbana, simbolizada em Paris, Cidade Luz, centro de encontro civilizacional e multicultural. Percorrer a pé a suas ruas, do Sacré-Coeur ao Quartier Latin, olhando da Concorde para o Arco de Triunfo, com paragens sucessivas na surpresa permanente dos múltiplos eventos, individuais e coletivos, que animam os espaços da cidade, são momentos que não me canso nunca de repetir ou partilhar com os amigos. Sentir a atmosfera indescritível do centenário restaurante Chartier, de arquitetura exuberante, com o reboliço das muitas dezenas de empregados, imaginando o tempo em que Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir faziam deste espaço uma espécie de cantina diária, faz-nos sentir de bem com a vida e com o Mundo.
Adoro a França agrícola, baluarte da transformação europeia após a Segunda Grande Guerra, que concilia as mais modernas técnicas de produção com a preservação de sistemas extensivos e de conservação e melhoramento de espécies. Todos sentimos o poderio mundial da sua vitivinicultura, simbolizada em regiões como Bordéus, Borgonha, Champanhe ou Alsácia. Admiramos a pátria da moderna gastronomia de autor, mas que sempre conservou uma admirável base de restaurantes em meio rural. Sentimos orgulho numa indústria europeia e no contributo que para ela dá esse gigante mundial que é a Airbus.
É ainda um país único enquanto espaço territorial. Os locais míticos das cordilheiras dos Pirenéus ou dos Alpes, a zona das Landes, os recortes da costa da Bretanha, os inúmeros canais navegáveis ou os castelos do vale do Loire, entre outros, tornam sempre especial o momento de cada nova visita.
É este país, baluarte da construção e sustentação da União Europeia, que eu espero se mantenha como espaço de liberdade e tolerância. A vitória de Macron será pelo menos o garante da manutenção destes valores fundamentais.
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO