Ninguém estava preparado para isto! Não admira, portanto, que se multipliquem as reclamações e os apelos de urgência.
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Das máscaras e batas de proteção dos agentes de saúde aos ventiladores e outros equipamentos hospitalares, do auxílio devido aos mais vulneráveis aos apoios às empresas para evitar a falência, procura-se dar resposta a tudo, o melhor que se pode. Aprende-se com os erros e procura-se fazer melhor. Basta olhar o que se passa pela Europa e América para perceber que nos confrontamos com insuficiências idênticas, porque ninguém previu uma crise desta dimensão e porque a ganância, a globalização e a deslocalização de empresas desviaram para as regiões mais pobres do planeta a produção de bens que agora fazem falta, como as máscaras e os ventiladores... Os governos dos EUA e do Reino Unido começaram por ignorar o risco de contágio na expectativa de que o "assunto" se resolvesse sem que eles tivessem de assumir a responsabilidade pelas cifras mortais que atingem os seus compatriotas. Mas hoje, até Jair Bolsonaro, no Brasil, já percebeu que não pode continuar a fazer de conta que não é nada com ele!
O que agora se espera, e o nosso Governo tem cumprido muito satisfatoriamente com esta exigência, é que se fale verdade. Esta é uma questão central no futuro que se avizinha: o respeito pela verdade. É com a verdade que se combate a demagogia e o populismo. É com a verdade que temos de enfrentar a manipulação dos sentimentos legítimos de indignação e revolta de grande parte dos cidadãos explorados pela extrema-direita, graças à hipocrisia e à cumplicidade de forças políticas "moderadas" e de certos governos europeus. Entretanto, na Hungria, Victor Orban aproveitou o estado de exceção para assumir poderes ilimitados.
Como afirma António Guterres, a "fúria do vírus é a ilustração da loucura da guerra". A propagação do vírus ameaça o Mundo inteiro, pondo em risco sobretudo populações mais vulneráveis como as do continente africano, e carece absolutamente de uma coordenação global que só as Nações Unidas podem assegurar. Por isso lançou o apelo a um cessar-fogo imediato dos conflitos armados em todos os cantos do planeta. O Papa Francisco logo secundou o apelo do secretário-geral das Nações Unidas. Ainda que muitos achassem que não passava de um voto piedoso e ingénuo, os representantes e enviados especiais das Nações Unidas prosseguem neste momento diligências de mediação e cessar- fogo entre as partes envolvidas, na Síria, no Iémen, na Líbia, no Congo, na Somália, no Sudão do Sul, nas Filipinas ou na Colômbia. Depois da crise, espera-nos um mundo novo. Temos de nos preparar, desde já, para assumir todas as responsabilidades.
* Deputado e professor de Direito Constitucional