A primeira sessão legislativa da segunda temporada do "costismo" não podia ter terminado da pior maneira. Por absurdo democrático, o pseudolíder da oposição propôs, e viu aprovado, o fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro.
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Costa nem precisou de abrir a boca, deixando a tarefa à chefe da repartição do Governo no Parlamento (o termo é do deputado Sérgio Sousa Pinto, do PS, para caracterizar o grupo parlamentar do seu partido), a D.ª A. Catarina Mendes, e a mais uns quantos lacaios da Situação. Houve mais deputados do PS, ou seja, do partido governamental, a votar contra a cessação dos debates do que do PSD. Rio, o lamentável presidente do PSD e brilhante autor da "iniciativa", impôs disciplina de voto. Mas, mesmo assim, ainda houve uma meia dúzia de deputados que preferiram louvar-se na sua própria consciência.
Rio, tal como Costa, tem horror ao escrutínio público. É uma anomalia política, como oportunamente lhe chamou Vasco Pulido Valente, a quem é perigoso confiar uma mera junta de freguesia ou a administração do mais diminuto condomínio. Não tem um pingo de imaginação democrática. O que, ao pé de Costa, que convive bem com a sua falta de escrúpulos democráticos, junta a fome com a vontade de comer qualquer hipótese feliz de uma sociedade aberta e pluralista.
É claro que os debates quinzenais eram mais simbólicos do que outra coisa qualquer. E isto destinou-se a silenciar dois deputados. Porém, uma democracia adulta também é feita de símbolos. Esta gente, esta oligarquia política instalada vai para cinco anos, detesta adultos na sala. O colaboracionismo político-partidário do líder do maior partido da oposição - ainda agora afirmou que o mambo-jambo do "plano Costa Silva" não lhe merece oposição - já não releva de qualquer pretensa necessidade de consensos nacionais. Sobretudo quando o chefe da Situação apouca publicamente esse colaboracionismo e estende a mão à sua maioria natural, comunistas e bloquistas. É uma humilhação gratuita e uma traição ao seu eleitorado de 2019. Ninguém lhe passou, a ele ou a outro deputado de qualquer partido, mandato popular para descaracterizar o debate democrático.
O sentido da votação do Parlamento é uma gangrena democrática, uma ferida no coração do sistema representativo. Configura o decaimento das instituições democráticas da República. O presidente da dita, que tem sempre uma palavrinha a propósito de tudo e a despropósito de nada, nem murmurou. É o que há.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
Jurista