Domingos névoa foi condenado por tentar corromper um autarca. Nada que incomode os autarcas de Braga. O que eles querem é bons preços e bons serviços.
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1. No processo Apito Dourado, e em todos os apitos que funcionam na sua órbita, quando se pensa que já vimos tudo, há sempre uma novidade que nos surpreende. A primeira superestrela feminina deste caso foi Carolina Salgado. Mas aos poucos vai sendo destronada pela irmã gémea, Ana Salgado. Que primeiro esteve contra a irmã e ao lado de Pinto da Costa, para agora regressar ao seio familiar e denunciar o presidente do F. C. Porto. Presume-se que o arrependimento terá surgido quando deixou de receber os tais cinco mil euros por mês, em notas. Não se pense que a história fica por aqui. Um procurador mandou abrir um inquérito por suspeita de fraude fiscal. Presume-se que o procurador suspeite que, tendo recebido este rendimento mensal, Ana Salgado não o tenha declarado às Finanças e que, portanto, deixou por pagar o IRS. Ora aqui está uma bela prova de que a realidade ultrapassa sempre a ficção. Pena é que, para além do futebol, também a Justiça se meta nestes salgados.
2. Há um senhor de Braga chamado Domingos Névoa que foi eleito para a presidência da Braval, empresa intermunicipal que trata do lixo da região. Empresa pública, acrescente-se. Ora este senhor tinha sido condenado, há umas semanas, por tentativa de corrupção de um autarca. Nada que incomode os autarcas de Braga, Póvoa de Lanhoso, Amares, Vila Verde, Terras de Bouro e Vieira do Minho. Como explicou um deles, "as câmaras o que querem é bons preços e bons serviços". Um belo exemplo de pragmatismo. Um pouco na linha de raciocínio desse outro autarca modelo chamado Isaltino Morais que, quando confrontado com os 400 mil euros que lhe sobraram da campanha, decidiu guardá-los numa conta na Suíça. Domingos Névoa renunciou entretanto. Para desgraça dos autarcas de Braga, que deixarão de contar com bom serviço e a bom preço.
3 . Ensinava-se antigamente que não se devia dar passo maior que a perna. Nenhum dos actuais inquilinos do Ministério da Educação terá tido um avô que lhe transmitisse alguma sabedoria popular. Caso contrário, não estariam com passo tão apressado para arranjar directores para todas as escolas do país. Não está em causa se a medida é boa ou má. Apenas a forma como se esbanjam dinheiros públicos. Os directores, naturalmente, terão um pagamento superior ao que teriam se continuassem como professores. Um pouco mais do que o que recebem os actuais membros dos conselhos executivos. Acontece que, com a obrigação de escolher, até final de Maio, todos os novos directores, os mandatos destes vão sobrepor-se aos dos conselhos anteriores. O que significa que o Ministério - ou seja, os nossos impostos - vai ter de pagar suplementos salariais aos que chegam e aos que partem. A 500 euros por cabeça. Não se podia ter dado um passo do tamanho da perna? Ou seja, substituir os conselhos executivos à medida que se fossem cumprindo os mandatos para os quais foram eleitos?