<p>Os sociólogos espanhóis chamam-lhe, com rigor e acutilância, a "geração nem-nem". Quem a compõe? Pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos que não têm qualquer ocupação: nem trabalham, nem estudam. Quantos são em Portugal? No terceiro trimestre de 2010 eram 314 mil, segundo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Trata-se do valor mais alto dos últimos anos. Desde 2007, este batalhão aumentou em cerca de 30 mil! </p>
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Há, seguramente, uma miríade de explicações para este fenómeno que emcaminha pessoas para lugar nenhum. Se fosse possível, a análise caso a caso mostraria, com toda a certeza, que, no meio destes 300 mil indivíduos, coabitam preguiçosos e trabalhadores, gente que faz de tudo para ganhar a vida e gente que prefere a modorra dos dias e o guarda- -chuva dos apoios sociais, pessoas que se refugiam na degradação dos salários e do mercado laboral para justificaram a apatia e a indolência e pessoas que, apesar disso tudo e de muito mais, levantam a cabeça e, seguras do seu mérito, não abandonam a batalha...
Verdade que esta realidade não é um exclusivo português. Verdade que há imensos exemplos de pessoas dentro desta faixa etária que, com arte, engenho e suor, conseguiram escapar a esta miserável estatística. Verdade que, hoje, os jovens estão mais preparados para fugirem, se quiserem, aos apelos do facilitismo. Mas é verdade também que as condições em que o país vive - e viverá durante muitos anos, se o juízo assomar à cabeça dos nossos líderes políticos, empresariais e sindicais - não auguram nada de bom.
Os empregos não brotarão. O mercado laboral não aguentará a rigidez que hoje mantém. O acesso aos serviços de saúde e à educação deixará de ser tão descaradamente fácil, para alguns. Os subsídios e apoios sociais tenderão a diminuir. Ou seja: o Estado, exaurido como está, tem que se reinventar - e não se reinventará mantendo- -se como inesgotável fonte de ajudas para os que mais precisam e para os que, precisando, podem lutar mais para deixar de precisar.
De modo que a "geração nem-nem" tenderá a engrossar a estatística. A menos que, em bom português, faça pela vida. O primeiro e inescapável facto a ter em conta é este: a breve prazo, o Estado não os poderá sustentar.