1. No já tradicional concurso da palavra do ano organizado pela Porto Editora, foi esta palavra saudade que ganhou a edição referente a 2020. Como muito bem titulava ontem o nosso JN, 2020 é um ano que não deixa grandes saudades e por isso a escolha não deixa de ser surpreendente. A não ser que os seus votantes estivessem a pensar nas saudades do futuro, como agora muitos gostam de dizer.
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Mergulhando nos diferentes resultados desta votação logo se percebe que se a Porto Editora fosse adepta de geringonças (por sinal a palavra triunfante em 2016) a vitória dessa palavra saudade seria imediatamente arrasada e esquecida por uma coligação das derrotadas, todas unidas pela ligação à crise sanitária que nos marcou este ano para sempre. De facto os cerca de 25 % que deram a vitória à saudade seriam poucochinho para a maioria absoluta de uma "geringonça" que juntasse covid-19, pandemia, confinamento, infodemia e zaragatoa, classificadas respetivamente em segundo, terceiro, quarto, sétimo e décimo lugares.
Apesar da surpresa de 2020 que contrasta muito com as vencedoras antecipadas, por exemplo, de 2010 e 2011, vuvuzela e austeridade, apreciei muito que tivesse ganho uma palavra tão intrinsecamente portuguesa como saudade, num ano que será sempre recordado pelas desgraças causadas por um vírus que veio de fora.
2. Este mergulho nos resultados "eleitorais " do concurso da Porto Editora levou-me por associação de ideias às últimas sondagens publicadas no JN e outros órgãos de Comunicação Social que parecem todas concordar no quase desaparecimento do CDS e na quase irrelevância política do seu líder. Duvido muito que liquidação seja a palavra do ano de 2021, mas duvido ainda mais que Francisco Rodrigues dos Santos e o seu partido venham a ter alguma palavra relevante a dizer no ano novo que acaba de começar. Pertenço ao grupo dos que pensam que "Chicão" não teria sido a escolha dos militantes centristas se tivesse sido possível adivinhar estes tempos de pandemia, mas agora é tarde.
Como já terei escrito nestas páginas, fui militante da Juventude Centrista logo a seguir ao 25 de Abril de 74, estive cercado no antigo Palácio de Cristal durante esse famoso Congresso do CDS e tenho pena do que está a acontecer a este partido. Não tenho saudade desses tempos, mas lamento ter tido razão quando aqui defendi já há mais de um ano que ou o CDS se fundia com o PSD ou morreria de morte natural. Ter razão nem sempre me deixa feliz.
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