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Tenho para mim que a situação política portuguesa é atualmente uma armadilha em que todos os partidos políticos caíram e de que não vejo como podem escapar tão cedo.
Tornou-se-me isto muito claro quando percebi que a vitória na questão das sanções, acumulada a pequenas outras que vem somando, não pode ser capitalizada por António Costa.
Não pode porque ninguém, à Esquerda ou à Direita, o deixa partir para a desejável clarificação eleitoral. Ou seja, as posições críticas relativas em que cada partido se colocou não permitem, para já, qualquer liberdade de movimentos nem a Costa nem a nenhum dos outros protagonistas da contenda.
O PSD de Passos Coelho insiste na ameaça de caos a que uma alegada mudança estrutural de políticas trará o país. Não vê que a diferença entre o estado em que deixou o país e o estado em que nos encontramos agora não é, percetivelmente, assim tão diferente. Conseguimos que um ajustamento violento nos deixasse mais ou menos capazes de pagar o que gastamos. Fica de fora a esmagadora dívida, que não desceu no consulado anterior, cujos juros, no entanto, podem ainda assim ser amenizados com a inteligente gestão de Cristina Casalinho e a persistente visão de Mário Draghi. Pedro Passos Coelho deixou-nos na corda bamba, António Costa mantém-nos na corda bamba. E porque no fundo sabe isto, não arrisca eleições.
O CDS/PP idem, idem, aspas, aspas. Passou a ter um discurso mais aguado. Abstêm-se quando o PSD vota contra, mas Assunção Cristas perdeu a crista inicial e ao distanciar-se do PSD arrisca-se a ficar irrelevante. Eleições, portanto, nem pensar.
O BE, por seu lado, já percebeu que de cada vez que tenta pôr a cabeça de fora do estritamente acordado nos famosos consensos bilaterais leva com a cara feia do PCP que mantém a tarefa patriótica de impor, à Esquerda radical truculenta dos mais novos (até dos seus próprios mais novos), um comportamento rigidamente institucional. Exige-se o cumprimento do que foi acordado e mais nada.
Em resultado disto, o BE tem vindo a oscilar no sentido da baixa em todas as sondagens mais recentes.
E tudo isto se pode eternizar até António Costa já não conseguir explicar onde é que, afinal, estavam as pequenas vitórias.
A única hipótese seria forçar uma qualquer medida habilmente ortodoxa, mas formalmente fora dos acordos, para que o PCP percebesse que a "entrega do poder à Direita" seria eventualmente melhor do que a perda massiva do seu eleitorado mais fiel.
*ANALISTA FINANCEIRA