1 - Os índios Navajos, tribo índigena da América do Norte, tinham, quando entraram em conflito, nos séculos XVIII e XIX, com os colonizadores espanhóis e mexicanos, uma máxima que lhes valeu a sobrevivência: "Se paramos, morremos; se avançamos, lutamos". Mesmo na altura em que oito mil índios foram detidos pelos norte-americanos e obrigados a andar 600 quilómetros sem direito a pão e água, até um forte do Novo México, naquela que ficou conhecida como "A grande caminhada", foi esse espírito de perseverança contra as dificuldades que os manteve vivos - preferiram sempre lutar, sabendo os riscos que corriam, a parar.
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Em boa medida, também os portugueses têm hoje pela frente uma "grande caminhada", certamente nunca inferior a meia dúzia de anos, até recuperarem uma parte do nível de vida a que se habituaram nas últimas décadas. Tal como os índios Navajos, convém saber se estamos dispostos a avançar e a lutar, ou se, ao invés, nos deixaremos levar pelo canto das sereias de circunstância - e parar.
O desafio que temos pela frente é o mais difícil e duro desde que vivemos em democracia. Não havendo sobre isso quaisquer dúvidas, cumpre-nos exigir o seguinte a quem se dispôs a liderar a "grande caminhada": i) retirar do centro do debate o monstro FMI; ii) evitar que as próximas eleições se transformem num plebicisto sobre de quem é a culpa de aqui termos chegado; iii) ideias e programas (políticos, económicos e sociais) para fugir à catástrofe; iv) toda a verdade sobre os sacrifícios a que estaremos obrigados nos próximo anos. É o mínimo que se pode pedir. Se, pelo contrário, os partidos e respectivos dirigentes máximos insistirem, como se antevê, na política comezinha e rasteirinha, a dor prolongar--se-á não por meia dúzia de anos, mas por décadas. É só escolher...
2 - O F.C. Porto sagrou-se campeão nacional na Luz, depois de uma "grande caminhada" em que, nos momentos mais duros e delicados, como no jogo de anteontem, foi aplicada a máxima dos Navajos: avançar e lutar. Que a marcha tenha acabado com o apagar das luzes mal a partida terminou revela apenas um facto: à primeira contrariedade, os dirigentes benfiquistas deixaram cair, com audível estrondo, a máscara da moral e dos bons costumes que exibiram meses a fio envolta numa fina camada de arrogância. E isso diz tudo sobre a sua estatura. O Benfica e os benfiquistas não mereciam passar por tamanha vergonha.