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Estado de negação, ou coisa pior, só pode. Maria de Lurdes Rodrigues disse, sem corar, na recente Escola de Quadros do CDS, em Peniche, que "a Parque Escolar não foi um luxo, foi a normalidade. Foi um grande programa, com recursos financeiros adequados" de que tem "grande orgulho".
Cada um tem orgulho do que quer, convenhamos. Acontece que a Parque Escolar é um caso de polícia - ou se não é, devia - que como o Tribunal de Contas a seu tempo referiu, mais do que triplicou o orçamento inicial de 940 milhões de euros, para valores próximos de 3168 milhões de euros, com apenas 205 escolas reabilitadas, em vez das 332 previstas.
A Parque Escolar também não foi "uma grande festa para o país", noutra expressão da ex-ministra socialista em audições parlamentares. Terá sido quanto muito uma valente orgia com direito a todos os devaneios, que na ressaca os portugueses sentirão no bolso, de cada vez que pagarem impostos até 2030, ano em que ficará saldada a dívida ao Banco Europeu de Investimento e ao Banco do Conselho da Europa, que no seu pico chegou a atingir, segundo o mesmo Tribunal, 1150 milhões de euros, acrescidos de juros.
Aos socialistas desses tempos, que são no essencial aqueles que agora governam e os suportam na bancada parlamentar, continua a fazer todo o sentido, dando apenas dois exemplos, equipar escolas com candeeiros do arquiteto Sisa Vieira a um custo unitário de 1700 euros, ou a opção por sistemas de ar condicionado que agravaram em 50% as faturas da eletricidade e por isso se mantêm inativos, por impossibilidade de se pagarem as contas.
A atual deputada e ex-ministra da Cultura Gabriela Canavilhas interrogou-se até sobre "qual é o problema de ter candeeiros Siza Vieira numa ou outra escola? É um grande artista português". Acostumados a gastar o dinheiro dos outros como se não houvesse amanhã, os estrategas do Largo do Rato esforçam-se na racionalização do absurdo e nessa medida resulta-lhes difícil entender que o que está em causa não é a valia do arquiteto, obviamente extraordinário, mas o preço absurdo (para o fim) e os gastos incomportáveis na manutenção de equipamentos destinados a serem utilizados pelas escolas (sublinhe-se, escolas).
Já agora, que dizer do facto de não haver correspondência nos dados referentes aos contratos da Parque Escolar, consoante se consultem os documentos da empresa, o relatório da IGF ou o portal Base, criado em 2008 para garantir mais transparência aos negócios efetuados pelo Estado?
Obras necessárias à parte, a Parque Escolar foi uma imensa vergonha.
* Deputado Europeu