No princípio, seria apenas mais um conflito que tomava conta da agenda mediática e nos invadia os lares nas capas dos jornais e nas reportagens dos noticiários.
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Talvez pela maior proximidade, o repúdio que sempre merece qualquer guerra transformou-se numa onda de solidariedade com a causa ucraniana, saltando para as nossas ruas e praças e para o mural das redes sociais, com palavras de indignação pela invasão arbitrária e de apoio às suas vítimas diretas.
Pragmaticamente, as menções amigas rapidamente se converteram em ações concretas, na mobilização de inúmeros bens e meios remetidos para solo ucraniano e no desenvolvimento de iniciativas coletivas de resgate e acolhimento de refugiados.
Do Norte ao Sul do País, por todos os cantos da Europa, sucederam-se as iniciativas similares, muitas vezes pautadas pelo voluntarismo de quem esquece que este acolhimento pleno não se pode cingir a um punhado de dias, mas pode prolongar-se por várias semanas ou meses. E que jamais podemos defraudar as expectativas de que o novo destino é um porto seguro para todos quantos foram obrigados a abandonar as suas casas para salvar as suas vidas, ou apenas para garantir o bem-estar dos que lhes são próximos.
Com o passar dos dias, ao desafio da integração destes cidadãos em cada uma das comunidades, acresceram novos e mais relevantes impactos.
De uma forma vincada, no aumento do custo dos combustíveis, com reflexos diretos nos transportes individuais e coletivos, mas consequências igualmente graves sobre os custos de transporte da generalidade dos bens.
Noutra dimensão, na dificuldade de acesso ou no encarecimento de diversos bens alimentares e no corte da cadeia de abastecimento de várias matérias-primas, com especial impacto sobre o setor da construção civil.
Em qualquer dos casos, resultando num impulso inflacionista que pode acelerar a subida das taxas de juro e contribuir para um ciclo recessivo de dimensões ainda incontroláveis.
E por mais que se diga que os efeitos nestas esferas do conflito militar ainda estão longe de se efetivar, não há nada mais racional no comportamento dos agentes económicos que a antecipação da evolução futura da realidade.
Para quem agora esperava encetar uma célere recuperação da pandemia, até a capacidade de concretização dos Planos de Recuperação é posta em causa.
Nestes tempos de tantas ameaças, também económicas e sociais, os governos europeus voltam a ser colocados perante o desafio de assegurar uma resposta conjunta, que mitigue os impactos para as suas populações da guerra que hoje já todos vivemos.
Presidente da Câmara de Braga