A proposta introduzida pelo PSD para discussão sobre a Constituição não comporta simples ajustamentos. Traz no bojo um projecto de diferente modelo político e social àquele configurado na actual Constituição. Portanto, projecta provocar uma autêntica «revolução constitucional».
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Efectivamente, é preciso não fazer da Constituição um mausoléu ou um documento do Mar Morto. Mas, provavelmente, é difícil (e suicidário) querer mudar a Constituição, quando, politicamente, o país não mudou. E se é forte o argumento de convicção do actual PSD de que a reforma das reformas passa, primeiro, por aqui, e vai por isso tentar as últimas consequências, talvez se possam perspectivar alguns cenários: Ou o PSD, aproveitando a ocasião, tem em mente «cobrar» ao PS o apoio conjuntural dado por motivo do declarado «interesse nacional» face à crítica situação da grave crise económica e financeira, e vem por isso forçar o PS à «revolução constitucional»; ou então, vai procurar criar condições para derrubar o Governo do PS, o que até agora parecia estar mais no horizonte próximo daquele Partido, ao verificar a subida nas sondagens. Há uma hipótese maquiavélica: terá Passos Coelho caído numa ratoeira?
Para fazer triunfar a «revolução constitucional», o PSD precisa do apoio do PS. Para derrubar o Governo precisa da coligação votante no Parlamento do PCP e do BE. Avançar com esta proposta da «revolução constitucional» vai provocar uma enorme instabilidade. Se o país estava «doente», de repente, aumenta o seu «estado crítico» com prognóstico reservado. Politicamente, é indubitável que os Partidos da Esquerda, (PC, BE, e provavelmente, por compromisso de herança histórica, o PS) vão unir-se. E estão criadas as condições para colocar o país no «estado de sítio» de que ele, neste momento, menos precisava. Para ultrapassar a crise em que está mergulhado o país necessita de um forte sentimento de coesão.
A proposta do PSD, no que diz respeito à Educação, à Saúde, ao Trabalho, vem trazer uma fractura enorme. E esta não é só político-partidária. É também social. A proposta discutível do PSD parece uma proposta séria. Com trabalho de casa. Proveniente de forças económicas. Não saíram da cabeça de Passos Coelho.
Pretende «vingar» a matriz constitucional de 76.
Mas não terá o apoio de uma população que não está disposta a mudar a visão que tem do Estado em que vive.