Não é novidade que as guerras também se perdem ou ganham na informação.
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Não é novidade que as guerras também se perdem ou ganham na informação.
Quem conhece a história da Segunda Guerra Mundial sabe a importância que teve no seu desfecho a descoberta do matemático britânico Alan Turing, que permitiu decifrar as mensagens encriptadas alemãs.
De então para cá, tornou-se muito maior a nossa capacidade de manipular a informação e torná-la desinformação, de construir notícias falsas que parecem verdadeiras e de as espalhar em velocidade estonteante, fazendo com que cheguem apenas a grupos de pessoas ou comunidades previamente selecionadas em função de certo objetivos.
A desinformação também acontece em tempo de paz. Foi assim que em 2016, a campanha Trump pôde selecionar os eleitores afro-americanos para lhes enviar desinformação personalizada que os demovesse de votar em Clinton.
Em tempo de guerra, a (des)informação passa a ter importância redobrada. Na atual invasão da Ucrânia pela Rússia, tem sido mesmo uma das principais frentes de batalha. Por exemplo, desde 2014 que a Rússia desinforma que o Governo ucraniano é composto por neonazis e que está em curso um genocídio de ucranianos de origem russa nas regiões do Leste da Ucrânia. Esta narrativa é difundida pelas agências estatais, como a RT e a Sputnik, e pelos seus "influencers", que usam os algoritmos de recomendação de conteúdos para chegar àqueles que têm mais tendência para acreditar, sem confirmar, e propagar.
Se não encontrarmos uma maneira de prevenir a disseminação da (des)informação, ela continuará a minar a nossa democracia especialmente em momentos eleitorais ou em tempo de guerra.
É por isso que estamos a discutir no Parlamento Europeu uma lei sobre os anúncios políticos, em especial, para proibir a publicidade política dirigida. Deste modo, limitaremos a capacidade de manipular eleitores, segredando mentiras sobre os adversários ou fazendo promessas contraditórias adaptadas a cada destinatário, sendo que cada um deles apenas recebe as suas e não escrutina as dos outros.
Com esta regulação, os partidos políticos mantêm a sua liberdade de promover campanhas publicitárias, mas terão de submeter-se ao devido escrutínio (incluindo do financiamento das campanhas), deixando de poder aproveitar-se dos nossos dados e das nossas vulnerabilidades individuais.
Na linha sempre difícil de garantir as liberdades políticas e de informação, é preciso encontrar um equilíbrio que permita que essas liberdades não se matem a si próprias.
Eurodeputada do PS