Corpo do artigo
A verdade encolhe à medida que a multidão cresce? A realidade parece confirmar essa afirmação. O que não deixa de ser curioso é que tanto faz se vivemos numa democracia, numa autocracia ou numa ditadura plena. Os meios podem diferir um pouco, mas o resultado é o mesmo: a manipulação das multidões é muito mais fácil do que parece. O trabalho que o JN publica hoje sobre o alastramento de núcleos de extrema-direita em Portugal é um bom exemplo.
Recuemos a 1938, nos EUA. A rádio CBS interrompeu a programação musical para noticiar uma suposta invasão de marcianos. A notícia desencadeou pânico em várias cidades americanas. Dramatizando o livro de ficção científica “A guerra dos mundos”, do escritor inglês Herbert George Wells, o programa revelava a chegada de centenas de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover’s Mill, no estado de Nova Jérsia.
No dia 29 de julho, três meninas com idades entre seis e nove anos foram mortas durante um ataque a um evento de dança infantil com tema de Taylor Swift, na cidade de Southport, no Norte da Inglaterra. Outras oito crianças e dois adultos ficaram feridos. A polícia prendeu um jovem de 17 anos e circularam nas redes sociais informações falsas de que o suspeito era um imigrante islâmico. Os protestos xenófobos violentos de rua surgiram em mais de uma dúzia de cidades inglesas.
Podemos ficar incrédulos ao saber que a maioria dos russos está a favor do seu líder e contra a Ucrânia. Podemos ficar espantados pelo facto de Nicolás Maduro ainda conseguir reunir multidões e tentar silenciar as redes sociais. Podemos pensar isso tudo, mas convém olhar para as células malignas no interior das nossas democracias.