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Por Twitter e por Facebook, por Youtube e Skype, por Linkledln e Myspace, criando organizações microscópicas na plataforma Ning, por SMS e MMS, Gmail, Hotmail ou o velhinho Outlook Express, por telefone ou computador, com protocolos de imagem e voz, ou só mensagens escritas, há revoltas em curso.
De Myanmar ao Irão, da Tunísia à ex-URSS, das greves de França à insurreição egípcia, o Planeta vai vivendo uma nova forma de relação social, em que os indivíduos se transformam em massa, por avisos e combinações que se limitam a códigos e sinais electrónicos.
Esta nova organização tem elementos comuns aos velhos estudos (com cerca de 150 anos) de Durkheim e Tönnies, Simmel e outros pais fundadores da análise de redes sociais. Continua a falar-se em "pontes" e "nós", "coesão" e "anomia", "entrelaçamento", "centralidade" e "periferia", "contágio", mas há realidades emergentes espantosas. Anónimos de todos os cantos de um país, de uma região, do Mundo, podem juntar-se na mesma praça, pela mesma causa, ou contra o mesmo mal, sem nunca se terem cruzado, falado ou maquinado juntos.
E há um efeito de aceleração, propagação e eficácia, que torna mais temíveis os círculos decisórios e conspirativos.
Ao contrário do que sucedia nas turbulências revolucionárias de outros séculos, em que as células subversivas, libertárias ou totalitárias se reuniam em segredo, em caves ou prédios esconsos, há agora formas de comunicar e planear seguras e expeditas. O uso de ferramentas cibernéticas "anonimizadoras", por exemplo, tornou a circulação de documentos confidenciais para a WikiLeaks virtualmente indetectável.
Esta novíssima "clandestinidade pública" leva também muitos estados, regimes e sistemas de governo a pensar em novas regras de controlo, disciplina e proibição.
Estas redes pós-modernas de contestação são também, muitas vezes, bases de afirmação de ideias e propostas, através de petições, abaixo-assinados, documentos de alternativa, sugestões das bases a eleitos, pessoal político, cabeças coroadas.
Pode dizer-se que, na maior parte das vezes, trata-se de exércitos sem generais. Mas estes hão-de aparecer. A questão é a de saber se serão meros aproveitadores oportunistas, vindos de fora, ou elementos que ascendem da base, e usam a chefia como um natural dever cívico.
E uma honra transitória.