Corpo do artigo
Decorreu recentemente a cimeira da comunidade de trabalho Norte de Portugal Galiza, pouco tempo depois da visita ao Porto do presidente do Governo Regional, Alberto Núñez Feijóo, onde foi agraciado como comendador da Ordem do Infante D. Henrique, grau atribuído pelo anterior presidente da República. Estes momentos simbólicos marcam uma relação cada vez mais estreita entre os dois povos que, respeitando com orgulho a sua pertença a países diferentes, têm em comum todo um percurso que remonta às origens de Portugal.
No Norte de Portugal e na Galiza as relações pessoais e profissionais fluem de forma natural. Sempre foi assim, mesmo quando os regimes políticos o tentaram impedir. A emigração galega tem marcas indeléveis no nosso país, que vão desde o seu contributo notável na construção dos patamares do Alto Douro Vinhateiro, aos sinais que ainda hoje perduram em muitos locais da restauração lisboeta. Por isso o reforço das relações de cooperação política e económica entre estes territórios tem de continuar a ser um desígnio, capitalizando a oportunidade que a comissão europeia concedeu através do estatuto de Eurorregião. A Galiza é já hoje um dos destinos mais importantes das nossas exportações, mas pode e deve ser muito mais do que isso.
Urge concluir algumas infraestruturas mínimas que ainda condicionam aspetos logísticos essenciais. Abandonada que foi a visão mítica de um TGV, é mais do que tempo de concluir a eletrificação da linha do Minho, que garanta tempos decentes no transporte de pessoas e mercadorias. A partilha e compatibilização de meios no domínio da proteção civil, em que o projeto ARIEM 112 é um excelente exemplo, a cooperação entre as associações empresariais em domínios como o vestuário, têxtil e metalomecânica, o consórcio das seis universidades da Eurorregião através da fundação CEER, o envolvimento dos nossos politécnicos e universidades em programas de intercâmbio de alunos, docentes e investigadores, aproveitando a experiência do IACOBUS, a implementação e reforço de protocolos de partilha de serviços de saúde nas zonas fronteiriças, ou a ligação histórica aos peregrinos de Santiago são apenas exemplos de um caminho em que muito teremos a ganhar se o soubermos percorrer em comum.
A ligação do Norte de Portugal com a Galiza é a prova viva e atual de que muitas vezes é a História que nos mostra e ensina, no presente, os caminhos para o futuro.
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO