<p>Pequim já fumega, depois do novo relatório do Pentágono, apontando a China como o grande "desestabilizador militar" dos equilíbrios estratégicos, na delicada Ásia. Embora reconhecendo que o "modelo chinês" não possui "ainda" os meios de projecção da sua força, a grandes distâncias, o Departamento de Defesa de Obama olha nele uma ameaça imediata.</p>
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Ameaças, sobretudo, aos parceiros americanos do Pacífico e da Oceânia, isto é, a novos e velhos (e futuros) aliados dos EUA.
A China reage, explicando que a sua força militar se destina apenas à defesa de um imenso território, e à participação em todas as tarefas militares pós-modernas, incluindo as "missões de apoio à paz". E, dentro dos EUA, há muitos responsáveis que, discretamente, reconhecem a preciosa ajuda da China, na domesticação de "regimes párias", ou no combate ao "extremismo violento".
Como me dizia há pouco tempo um diplomata chinês, o problema é que os EUA "precisam da China, mas não como superpotência: apenas enquanto ajudante de superpotência".
Há razões para esta desconfiança de Washington?
Há. Pequim deve compreendê-las, antes de se queixar do "espírito da Guerra Fria".
Apesar de todos os avanços, o "modelo chinês" é baseado no domínio de um partido, dito comunista, entre grossas aspas.
Este é o maior obstáculo. Se a China fosse um estado pluralista como o Japão, a sua ascensão à condição de superpotência, rival ou aliada dos EUA, seria mais fácil e mais natural, e teria menos oposição americana.
Assim, a chave está na liberalização cívica na China. Quer na direcção de genuínos outros partidos quer no sentido de voz plena à "sociedade civil", através de um sólido código de direitos fundamentais. Incluindo plenas liberdades políticas, sociais e económicas.
Claro que, como vem sendo explicado por Pequim, primeiro tem de se atender à vida, e só depois à filosofia. Quer dizer, antes há que elevar a riqueza individual, alimentar o povo, trazer da sub-humanidade as massas que ainda lá estão, depois das criminosas fantasias maoístas e neomaoístas, e só depois pensar em cultivar a mente.
A chave de abertura de novos jornais, para grande parte dos decisores políticos chineses, é a abertura de novos supermercados, escolas, fábricas modernas, hospitais e bairros confortáveis.
Mas este caminho pode ser longo. Cem anos na vida da China não são nada, mas constituem uma eternidade, no caminho do Ocidente.
E o "Ocidente", e o mundo em geral, olham para a China, ansiosos. Esta parece sobreviver melhor do que os outros, face à crise financeira, a tal que come as almas e os corpos.
O "mercantilismo" chinês, em que o Estado, através de várias entidades (governos regionais, cooperativas, guildas de empresários, sindicatos, empresas "privadas" detidas indirectamente pelo sector público, e um largo etc.), vigia, controla, condiciona e protege a economia e as finanças, actuando no valor da moeda, nos subsídios aos sectores produtivos, ou no estabelecimento de planos de actividade, tem amortecido o choque do descalabro da Wall Street, no ex-"Império do Meio".
Mais habituado ao apertar do cinto, ao sofrimento, à flutuação do conforto, à reciclagem e ao recomeço, o meio social chinês, ajudado por esta máquina, pode ajudar a injectar dinheiro fresco nos mercados internacionais. Pode, inclusivamente, ajudar a reconstruir a "ordem financeira mundial".
Mas há-de pedir alguma coisa em troca.
Incluindo poder.
Político.
Aos EUA.